Mestre dos Romeiros da Conceição pede aos irmãos que “não deixem o terço” e contagiem “até alguém de quem gostem menos”

Segundo maior rancho de São Miguel recolhe a casa este sábado

O Rancho de Romeiros da Conceição, paróquia da cidade da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, é o segundo maior rancho da ilha e recolhe hoje a casa, depois de uma romaria em que o mais difícil “foi arrumar sempre os 111 irmãos”, disse ao Sítio Igreja Açores o Mestre,  José Fernandes,  que há 34 anos lidera o grupo.

Este sábado, depois da Eucaristia, José Fernandes já tem a mensagem estudada para dizer a todos os irmãos do rancho ”não larguem o terço porque amanhã começa a verdadeira romaria e as vossas orações não terão sentido senão as partilharem com todos, inclusive, contagiando algum que possa parecer inimigo, por qualquer motivo”.

“Este é o espirito da romaria”, confessa. No ano em que faz a sua 50ª romaria da Quaresma- 48 no Rancho da Conceição e mais duas no de Vila Franca do Campo- José Fernandes diz que chega ao fim com a noção de dever cumprido.

“Não é fácil liderar o grupo não porque deem problemas mas porque a acomodação é cada vez mais difícil”, sobretudo pelo facto de pernoitarem nalgumas freguesias, pequenas e com muitas dificuldades.

“Apenas metade do rancho é recolhido em casas; a outra parte geralmente fica nos salões o que é mais difícil porque é la que se come e se toma duche”, diz.

“As pessoas são muito generosas mas arrumar 111 pessoas não é fácil com esta crise” reconhece, embora “não possa fazer grande coisa pois a minha missão não é empurrar ninguém para fora. Todos os anos temos gente nova”.

Dos 111 romeiros que integram o Rancho da Conceição 17 são crianças- o mais novo tem nove anos- e há alguns que pertencem ao rancho porque o avô ou o pai também fazem a romaria.

Esta manhã o Sítio Igreja Açores foi ao encontro deste Rancho que parou bem cedo na Casa do Povo dos Fenais da Luz. À espera estavam o presidente da Casa do Povo da Ribeira Grande, Albano Garcia e três senhoras, duas delas familiares de romeiros. Dentro da carrinha duas panelas de sopa quente de feijão “para retemperar forças e aliviar o sofrimento físico”, provocado pelo cansaço, sublinha o dirigente da Casa do Povo.

“É a forma que nós temos de minimizar a dureza da caminha servindo-lhes uma refeição quente. Fazemos a eles e também ao rancho da Matriz da Ribeira Grande. Vamos ao encontro deles no dia 17 na Lomba do Alcaide(Povoação)”.

Albano Garcia, também ele romeiro, diz que esta semana é “dura fisicamente mas alivia a alma e constitui um verdadeiro retiro espiritual”.

Um dos estreantes do grupo é Filipe Tavares, realizador do filme “Viagem Autonómica”.

“Estou maravilhado com a experiência”, diz num tom sereno de quem ainda não se deixou vencer pelo cansaço físico, fascinado por ter tido a possibilidade de “conhecer a ilha de forma diferente” mas “sempre numa vivência religiosa inigualável”.

“As pessoas dizem que não sabem explicar… eu cada vez sei mais… apesar da dureza do trajeto, a alegria que se vive, as amizades, as emoções… são sentimentos muito fortes que surgem nesta caminhada que é fonte de camaradagem, partilha e libertação”, sublinha o realizador.

“Tem sido muito enriquecedor e esta aventura é parte de uma investigação para o meu trabalho futuro” diz como quem tem já um pré guião na cabeça.

“Sem dúvida que vou fazer um trabalho sobre os Romeiros, centrado neste rancho, e que terá como protagonista o Mestre, um líder nato com qualidades incríveis para tratar as pessoas”, acrescenta Filipe Tavares.

Depois de sete dias de intensa caminha, o Rancho regressa a casa mas amanhã a maioria destes romeiros ainda sairá para participar na procissão do Senhor dos Passos, na Ribeira Grande. Aliás, todas as semanas 40 romeiros integram o coro da paróquia da Conceição e são eles que animam as Eucaristias ao Sábado, “fora todos os outros que participam noutros movimentos da igreja”.

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