Chefe de redação da Agência Ecclesia e jornalista vaticanista, Octávio Carmo sublinha que a mensagem é muito direta para os jornalistas
A mensagem para o 59º Dia das Comunicações sociais, que se realiza no domingo anterior ao domingo de Pentecostes, constitui um “grande desafio” porque vai, de forma concreta, ao encontro do que é o jornalismo e os desafios que se colocam à profissão, num contexto de grande polarização do discurso, afirma ao Sítio Igreja Açores o Chefe de Redação da Agência Ecclesia.
“Nesta mensagem o Papa não faz um discurso angelical; ele olha para os desafios que enfrentam os comunicadores mas também os consumidores, que muitas vezes não conseguem distinguir aquilo que é informação daquilo que lhes é oferecido como tal sem o ser” considera Octávio Carmo a propósito da mensagem do papa Francisco.
“Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações” é o tema da Mensagem, inspirada em dois versículos da Primeira Carta de São Pedro (cf. 3, 15-16): “No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito”.
Por outro lado, mais para o fim da mensagem, prossegue o jornalista católico, o Papa interroga-se pelo facto do de ser necessário que articulemos boas histórias.
“O papa convoca-nos a um olhar atento, assumindo como contar boas histórias. A agenda mediática fica muitas vezes condicionada à polémica do momento; estamos a habituados a ver isso” refere ainda o chefe de redação da Agência Ecclesia, ressalvando a necessidade de desenvolver um trabalho feito a partir da realidade concreta mostrando rostos e histórias de superação.
Ser comunicadores de esperança: este é o convite feito pelo Papa Francisco aos jornalistas de todo o mundo na mensagem para o LIX Dia Mundial das Comunicações Sociais.
O texto é divulgado tradicionalmente no dia 24 de janeiro, festa de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, e este ano véspera do Jubileu dos Comunicadores, programado para este final de semana no Vaticano.
Antes de desenvolver a sua reflexão, Francisco faz uma análise da comunicação atual, marcada “pela desinformação e pela polarização, em que alguns centros de poder controlam uma grande massa de dados e de informações sem precedentes”.
Mas diante das conquistas da técnica, o Santo Padre pede que se cuide do coração.
“No centro da comunicação deve estar a responsabilidade pessoal e coletiva para com o próximo.”
Com frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio.
Como em outras ocasiões, o Pontífice insiste na necessidade de “desarmar” a comunicação.
“Nunca dá bom resultado reduzir a realidade a slogans”, escreve. Desde os talk shows televisivos até às guerras verbais nas redes sociais, há o risco de prevalecer o paradigma da competição, de fazer do outro um “inimigo”.
Eis então que o Apóstolo oferece uma síntese “admirável” da comunicação cristã, ou seja: dar com mansidão a razão da nossa esperança.
“A esperança dos cristãos tem um rosto: o rosto do Senhor ressuscitado”, recorda o Pontífice. Os cristãos não são, antes de mais, aqueles que “falam” de Deus, mas aqueles que fazem ressoar a beleza do seu amor, uma maneira nova de viver cada pequena coisa.
“A comunicação dos cristãos – e eu diria até a comunicação em geral – deve ser feita com mansidão, com proximidade: eis o estilo dos companheiros de viagem, na pegada do maior Comunicador de todos os tempos, Jesus de Nazaré.”
Francisco expõe os seus “sonhos” na comunicação: uma comunicação que saiba fazer de nós companheiros de viagem; capaz de falar ao coração; de gerar empatia, interesse pelos outros; que não venda ilusões ou medos, mas seja capaz de dar razões para ter esperança.
Para isso, acrescenta, precisamos de nos curar da “doença” do protagonismo e da autorreferencialidade, pois o bom comunicador faz com que quem ouve, lê ou vê se torne participante. Comunicar deste modo ajuda a nos tornar “peregrinos de esperança”, como diz o lema do Jubileu.
A esperança é sempre um projeto comunitário e o Jubileu tem implicações sociais, escreve por fim o Santo Padre, concluindo com algumas exortações para tornar o mundo menos indiferente e um pouco menos fechado:
“Encorajo-os a descobrir e a contar tantas histórias de bem escondidas por detrás das notícias”; encontrar as centelhas de bem que nos permitem ter esperança; ser mansos e nunca esquecer o rosto do outro; praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da humanidade; ser testemunhas e promotores de uma comunicação não hostil, que difunda uma cultura do cuidado e construa pontes.
(Com Vatican News)