Por Carmo Rodeia
“Caros amigos, a fé é revolucionária e eu pergunto-te: estás disposto, estás disposta a entrar nesta onde revolucionária da fé? Só se entrares nesta onda é que a tua jovem vida ganhará sentido e, assim, será fecunda”.
A afirmação do Papa Francisco, dirigida aos jovens, poderia ser dirigida a cada um de nós, com a mesma pertinência.
Este apelo desafia-nos a sermos protagonistas das nossas vidas, seguindo Jesus como modelo de verdade para o caminho e para a vida.
Estamos prestes a entrar numa época favorável ao repensar da vida. Após a folia e o entusiasmo do entrudo, chegarão as Cinzas e a Quaresma, com os seus apelos à oração, jejum e esmola. 40 dias que procuram recuperar todas as dimensões da vivência da fé, para que a vida seja mais completa e o mundo mais humano.
O bispo de Angra remete-nos para a ideia de um verdadeiro encontro com Deus, projectado no nosso mais próximo, seja ele quem for.
Olhar para a cruz pode ser um gesto de grande utilidade neste caminho . É dela que temos de tirar as forças suficientes para caminharmos, aproveitando este tempo favorável. É a partir dela que devemos seguir em frente, porque é nela que encontramos a vida e o perdão.
É a partir da cruz que Jesus nos mostra o Pai e revela como Ele está sempre presente em todas as etapas da nossa vida.
Aos pés da cruz, o centurião afirma: “Este homem, verdadeiramente, é o filho de Deus”. Ou seja, na Sua humanidade extrema, na radicalidade da sua entrega que o pendurou naquele martírio que a cruz significa, Jesus dá-nos a conhecer o verdadeiro rosto do Pai.
É assim que começamos a Quaresma, tempo de conversão e sobriedade, mas também tempo de alegria e de preparação para a festa.
«Quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa» (Mateus 6,16).
Diz o Papa que a misericórdia de Deus é um anúncio ao mundo, mas cada cristão é chamado a fazer pessoalmente experiência de tal anúncio. O primeiro apelo é dirigido a cada pessoa que professa a fé, no sentido de levar a sério a caminhada quaresmal, abrindo-se ao convite da Igreja, acolhendo as propostas de jejum, de oração intensa e de caridade ativa.
Jesus não morreu na cruz gratuitamente. Fê-lo por amor. Temos nós o direito de não continuarmos a ser testemunhas deste amor, que tudo dá e pouco cobra?
Quem puder que atire a primeira pedra. Foi mais ou menos assim que Jesus respondeu perante a mulher adúltera. E quantas pedras atiramos nós?
Um dos grandes desafios desta Quaresma é sermos capazes de nos formarmos em misericórdia, isto é, sermos capazes de exercitarmos o nosso coração para nos inserirmos num mundo de feridos.
Lembro-me de uma expressão utilizada pelo Papa Francisco na viagem de regresso das jornadas Mundiais da Juventude do Brasil quando lhe fizeram uma pergunta relativamente aos homossexuais e ele respondeu: “se uma pessoa for gay e procurar o Senhor e tiver boa vontade… quem serei eu para julga-la?”.
A igreja tem uma posição clara sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas também é verdade que não há limites para a proclamação do Evangelho. É esta interpretação do esquema de vida do Senhor Jesus que o Papa Francisco nos apresenta todos os dias. Esta é a verdadeira igreja em saída…na Quaresma e em todos os hoje favoráveis desta vida.
A Quaresma começa com a imposição das cinzas; reconhecera sua importância é consciencializarmo-nos da nossa condição de pecadores e aprendermos todos a perdoar. Temos um belo caderno de encargos…