«É bom que a Europa cristã se habitue a essa ideia», disse o presidente da República, na Gulbenkian
O presidente da República Portuguesa disse que o Papa Francisco, que virá a Fátima nos dias 12 e 13 de maio, trouxe consigo uma “outra dimensão, outra visão” para a Igreja Católica, menos “eurocêntrica” e mais do “mundo”.
Na apresentação do livro ‘Francisco: desafios à Igreja e ao mundo’, esta terça-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, Marcelo Rebelo de Sousa definiu o Papa argentino como “o Papa das periferias”, para quem estar em Roma “é uma contingência”, pois “o essencial da sua definição vem de longe”.
“E é bom que a Europa cristã se habitue a essa ideia, de que não é um acidente um Papa não europeu. Pode converter-se no retrato efetivo da Igreja na sua expressão universal”, salientou.
Durante a sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa destacou um Papa que transportou para a Igreja Católica, nos últimos quatro anos, a “pujança” de uma América Latina “onde a Igreja Católica cresce, é mais jovem”.
“Quem conhece” a América Latina, “aquela juventude, aquele vigor, aquela alegria, aquele colorido, não se choca com a alegria, o vigor, o colorido do Papa”, afirmou o presidente da República.
Marcelo Rebelo de Sousa lembrou ainda duas caraterísticas do Papa que considera decisivas no seu pontificado.
O facto de ele integrar em si “toda a preparação intelectual própria dos jesuítas”, como membro da Companhia de Jesus; e ao mesmo tempo “todo o desprendimento, a proximidade em relação à natureza e aos humanos que se associa aos franciscanos”, por ter escolhido o seu nome – quando assumiu o pontificado em 2013 – a partir de São Francisco de Assis.
“Este cruzamento é de uma riqueza única”, frisou Marcelo Rebelo de Sousa, que apontou a prioridade à “intervenção” no terreno como outra das caraterísticas essenciais do atual Papa.
Francisco continua a ser “o pároco” que era em Buenos Aires, que para todos “procura uma expressão que vá diretamente aos seus interlocutores, que seja percetível por eles”.
Mesmo correndo “o risco de parecer simplista”, para este Papa o essencial é “ser eficaz em termos pastorais”, completou o presidente da República.
O livro ‘Francisco: Desafios à Igreja e ao mundo’ é da autoria do padre Anselmo Borges, que durante a sessão de apresentação enalteceu um Papa que “por gestos e atos” tem procurado “trazer a todos ao palco da História e da dignidade” e que se tornou “um líder político-moral global respeitado e amado em todo o mundo”.
O evento contou também com a participação de figuras como o general António Ramalho Eanes, antigo presidente da República Portuguesa, e o conselheiro de Estado Adriano Moreira.
Para Adriano Moreira, o Papa argentino é uma das últimas “vozes encantatórias” que restam num mundo onde “as interrogações são muitas”, assim como “as faltas de decisão”.
Quanto a António Ramalho Eanes, definiu a atuação do Papa Francisco como a de uma Igreja Católica à procura de “encontrar soluções” para “os seus problemas e os problemas do mundo”.
“Para isso ele advoga o diálogo, sempre e em todas as direções, sem preconceitos, com verdade e responsabilidade”, acrescentou.
Publicada pela editora ‘Gradiva’, a obra ‘‘Francisco: Desafios à Igreja e ao mundo’, do padre Anselmo Borges, está organizada em quatro áreas temáticas: De Bento XVI a Francisco; Sexualidade e Família; Pessoa, Ética e Política; e Para Uma Igreja do Século XXI.
(Com Ecclesia)