Homenagem ao único madalenense que durante o século XX abraçou a vida religiosa teve lugar hoje na igreja Matriz da Madalena, na ilha do Pico
A Paróquia de Santa Maria Madalena, na ilha do Pico, homenageou este domingo o religioso Manuel Feliciano Garcia Dutra, natural da Vila da Madalena, por ocasião das suas bodas de ouro de vida religiosa.
A homenagem ao único natural da vila da Madalena, na ilha do Pico, que no século XX abraçou a vida religiosa consagrada, decorreu na missa do meio dia, na celebração da festa da Sagrada Família, em pleno ano da Vida Consagrada, cuja dedicação se estende até fevereiro de 2016.
O irmão Manuel Dutra pertence à Congregação dos Sagrados Corações e hoje cumpre a sua missão na paróquia do Catujal, depois da sua opção de vida o ter levado para Moçambique, país onde esta congregação tem várias missões desde 1956.
A Congregação dos Sagrados Corações nasceu em pleno temporal revolucionário no final do século XVIII, pela mão do sacerdote da diocese de Poitiers, José Maria Coudrin e de uma jovem da nobreza francesa, Henriqueta Aymer de la Chevarie e dedica-se a adorar e a espalhar o Amor.
Destaca-se nos trabalhos educativos, de formação de seminaristas, missionários em áreas de fronteira de Igreja e também nas paróquias.
A primeira missão “ad gentes” aceite pelo Fundador foi a de Honoluú e ilhas Cook, em 1827.
Em Portugal, a Congregação orientou o Seminário Maior dos Olivais, entre 1931 e 1947, e foi trazida para o país pela mão do Cardeal Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira.
Também estiveram na ilha Terceira, em 1957, mais concretamente na Praia da Vitória onde foi fundado , em 1957, o Seminário Menor “Padre Damião”, que teve 18 anos de vida, até 1971. Foi, de resto, nesta casa que o irmão Manuel Dutra, de 70 anos de idade, deu os seus primeiros passos na vida religiosa, começando a cumprir “o seu desejo de gastar a vida pelos outros ainda que de forma pouco esclarecida” como escreve Ana Patrícia Fonseca da Fundação Fé e Cooperação.
Razões pessoais e familiares levaram-no a interromper os estudos, adiando esta vocação que nunca foi totalmente abafada. Tinha como exemplo a figura do Padre Damião e a sua entrega aos leprosos e “tinha a certeza que também ele podia ser missionário, como religioso, na Congregação dos Sagrados Corações” refere Ana Patrícia Fonseca que traça o percurso de vida deste religioso, que em 1962 parte para o Continente para dar inicio ao seu noviciado. Faz a sua profissão religiosa a 25 de Setembro em 1964, “cumprindo assim o desejo que o consumia desde pequeno”.
Em 1968 parte para Moçambique.
A perda do pai, de forma repentina, e a partida do irmão mais novo para Angola, para aí cumprir serviço militar, foram dois momentos duros na vida do Ir. Manuel Dutra, “mas que não abalaram a sua vocação e, nesses momentos difíceis, tendo o Pe. Damião como guia, responde ao seu chamamento” e, em Fevereiro de 1969, chega a Moçambique, onde se instala na Missão de Chupanga, nas margens do rio Zambéze.
“Esta é uma missão que marca profundamente a sua vida. Aí dá início a um projeto agrícola, apoiando a fixação das famílias no campo e dá continuidade ao trabalho nos internatos, acompanhando mais de 250 crianças e jovens no seu percurso escolar”, refere Ana Patrícia Fonseca.
Em 1971 deixa Chupanga e ruma até à Missão do Dondo, uma zona industrial próxima da Cidade da Beira, onde a Congregação geria a Escola de Artes e Ofícios.
Nos anos seguintes, com o aumento do número de alunos, arregaça as mangas e dá início à ampliação da Escola. Recorda a alegria de ver o trabalho avançar e de presenciar a conclusão do curso dos primeiros alunos da Escola de Artes e Ofícios, mas também a preocupação de sentir a guerra a aproximar-se.
Em 1975 Moçambique torna-se independente e o Ir. Manuel Dutra acompanha o processo e “esse tempo lindo em que os moçambicanos tomam as rédeas do seu país”, refere ainda Ana Patrícia Fonseca.
Com 31 anos regressa a Portugal para estudar. Especializou-se na área da agricultura e frequentou, durante um ano, o curso de Produção Animal Tropical, na Escola de Agricultura Tropical, na Holanda. No entanto, o tempo forte de guerra civil que se vivia em Moçambique, adiaram o seu tão desejado regresso. A sua missão continua, agora em Lisboa, como responsável de Centro Social da Penha de França. Este foi o tempo de pôr em prática a opção pelos pobres, cuidando dos idosos da freguesia. Foi um percurso de dedicação e empenho em todos os sentidos e vivido com muita intensidade e entusiasmo.
O tão desejado regresso a Moçambique acontece em Setembro de 1998.
“A alegria de voltar a ver a terra e poder sentir o crescimento do novo país, encheram-lhe a alma. No início, apoia a comunidade no noviciado e, em 2003, abraça um novo desafio: a construção e instalação do Instituto de Deficientes Visuais da Beira, que inaugura dois anos mais tarde”, refere ainda Ana Patrícia Fonseca.
No final de 2005, de novo em Portugal, cria o PADE – Projecto de Apoio a Doentes Estrangeiros, com o Apoio do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural.
Durante dois anos vive esta experiência difícil, de apoio aos doentes. Ao mesmo tempo que trabalha no PADE apoia e participa na formação de leigos missionários, enviados para as Missões da Congregação, em Moçambique.
Hoje, a viver no Catujal, tem em mãos um novo grande desafio : há um ano está a receber crianças doentes, vindas da Guiné-Bissau, que estão a ser tratadas ao abrigo do protocolo de cooperação entre os dois países.
A sua vida de intensa dedicação à Igreja, à missão e aos mais pobres pode ser sintetizada na resposta que um dia deu a uma senhora que o interpelou no mercado do Catujal: “A sua esposa deve ser muito feliz!”, disse-lhe. “Sim, muitíssimo!”, respondeu-lhe, “e eu também, depois de quase 48 anos de casamento”.
( As notas biográficas foram retiradas de um Texto de Ana Patrícia Fonseca, FEC – Fundação Fé e Cooperação)