Por Renato Moura
A última entrevista a António Costa ocorreu quando se perfazia um ano sobre a obtenção da maioria absoluta do PS, nas eleições para a Assembleia da República.
O 1.º Ministro teve dois meses para escolher o novo governo, mas nem assim evitou esta enorme turbulência na governação, a qual não se explica pela pandemia, nem pela guerra. Sucedem-se várias remodelações, muitas exonerações e nomeações, outros casos inquietantes que não podem ser reduzidos a “casinhos”. Têm sido tomadas medidas pontuais, mas não há sinais das medidas estruturais essenciais que uma maioria poderia permitir! Está por fazer a prometida prova das virtudes das maiorias absolutas! A estabilidade nem sequer existe no Governo!
Governar também provoca desgaste e António Costa já vai com sete anos de 1.º Ministro, para além de outros como ministro, nas dezenas de anos dos governos socialistas. É entendível a frustração de quem não é socialista; mas o desconforto já é visível nos correligionários fiéis e revelada pelos descomprometidos; inquieta os eleitores da oposição que desta feita escolheram o PS para votar, seja por estar mais bem posicionado, ou se julgar ser o menos mau.
Talvez seja surpreendente, mas confesso ter tido expectativa positiva da entrevista.
A reconhecida habilidade argumentativa de António Costa faria supor outras respostas às pertinentes questões do jornalista. Na verdade, abandonou a arrogância da recente entrevista à “Visão”, todavia fugiu constantemente às perguntas, persistiu, até onde pôde, em não reconhecer culpas. Repetiu sempre as medidas tomadas, e de tão repisadas como têm sido, até à exaustão, já se transformaram em slogans de campanha. Quis parecer optimista, mas isso não corresponde ao sentir dos portugueses. Habituado como estava ao apoio – tantas vezes soando a incondicional – de Marcelo Rebelo de Sousa, não disfarçou o mal-estar pelos recentes recados do Presidente da República; e não resistiu a procurar comprometê-lo, inapelavelmente, naquela exigência de um governo para a legislatura, aquando da tomada de posse.
Os portugueses tinham o direito de esperar que o sentimento de ansiedade, face à instabilidade e à estagnação, mostrasse sinais de regeneração fundados em compromissos claros, objectivos e concretizáveis, por parte do 1.º Ministro – que é de Portugal. Seria um compromisso de recomeço, para a restituição da confiança.
O 1.º Ministro não reabilitou o mal-estar do Governo, nem o do País. E assim, sem oposições fortes, têm de ser os portugueses a exigir mais e melhor.