Mais do que tirar bancos da igreja, a diminuição das comunidades desafia a “instalação da gramática do mobiliar litúrgico”

O padre Joaquim Félix, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, afirmou que é necessário adaptar as igrejas a “assembleias reduzidas” e desafia as comunidades a rever a “instalação da gramática do mobiliar litúrgico”.

Em declarações à Agência ECCLESIA durante a Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, que debateu o tema “Edificar hoje a casa de Deus na cidade terrena”, o sacerdote especialista em Liturgia disse que, como se adaptaram os espaços para comunidades crescentes, agora é necessário adequar os ambientes de culto a assembleias mais reduzidas.

“Este é um desafio que é lançado aos arquitetos, mas também para pôr em prática os princípios da participação ativa dos fiéis, daquilo que era a centralidade gerada pelo altar e o ambão, com uma Igreja da escuta da Palavra, uma Igreja que vive dessa mesa central”, afirmou.

Para o padre Joaquim Félix, é “mais fácil” retirar bancos das igrejas, de acordo com o número de participantes, mas outra possibilidade tem despertado “muitos mais desafios do ponto de vista da instalação da gramática do mobiliar litúrgico”.

O professor da Faculdade de Teologia considera que é necessário “criar boas comissões, conhecer as normas da Igreja, o corpo normativo, que é muito mais aberto do que as determinações do concílio de Trento” e “não ficar na inércia”, mantendo a distância entre o celebrante e a assembleia.

“Há que enfrentar e encontrar soluções criativas dentro do grande espectro de possibilidades que a Igreja possibilita, para valorizar a Assembleia na sua dimensão afetiva da proximidade e também o sentido de participação como sujeito coletivo que é a assembleia”, apontou.

O padre Joaquim Félix desafiou a encontrar “medidas sábias” para “envolver as pessoas com informação” sobre as possíveis transformações dos espaços de culto, para “evitar polémicas e desacordos”.

O sacerdote referiu-se também, na sua exposição, à “desqualificação” das capelas mortuárias, alertando para o facto dos espaços serem construídos pelas autarquias enquanto concretização de um serviço público, mas “desencarnado” da perspetiva de fé, nomeadamente católica.

O arquiteto Bernardo Pizarro Miranda defende que é necessário identificar a “ideia de Deus”, ainda equacionada em “grandes espaços” para o culto, refletida nas igrejas e nos ambientes litúrgicos, assim como o que a acontecer na “liturgia e qual é verdadeiramente o significado da participação ativa da assembleia”.

“Na liturgia, o Deus do Evangelho, pobre, está no meio, está no vazio de presença que é habitado pela assembleia. E nós tendemos para esta ideia de Igreja Pedras Vivas, em que nós somos as pedras todas, umas mais doentes, outras mais altas, outras mais baixas, mas somos nós”, afirmou.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o arquiteto a igreja “é comunidade” e “o edifício tem de ser pedagógico desse ponto de vista”, permitindo “poder perceber a liturgia”, a Palavra e a “fração e a partilha do pão”.

“Esses significados não se podem perder! Nós temos de, no espaço e no movimento, conseguir compreendê-los”, sublinhou.

Questionado sobre a alegada ligação crescente ao ambiente do Concílio de Trento, afastando-se do espírito do Concílio Vaticano II, Bernardo Pizarro Miranda considera que é na “discussão” e da “tensão” entre diferentes perspetivas que vai ser possível “superar estes ciclos”.

“Temos que voltar os nossos olhos para a questão da participação ativa, a nossa participação na liturgia e a nossa participação no mundo. Não podemos continuar a ser agentes passivos, nós os leigos”, sublinhou.

O debate sobre o tema “Edificar hoje a casa de Deus na cidade terrena” aconteceu, durante a manhã, com intervenções do arquiteto Bernardo Pizarro Miranda e do teólogo Joaquim Félix de Carvalho e, durante a tarde, do arquiteto João Luís Marques, do arquiteto e sacerdote jesuíta João Norton de Matos e do historiador de arte Marco Daniel Duarte; depois, Rosário Correia Machado, diretora dos Serviços Culturais do Município de Amarante, fez a conferência final, sobre “A visão de um Mestre (Siza Vieira) e a tradição de arquitetura religiosa em Portugal”.

A 18.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, promovida pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura em Fátima, encerrou com a intervenção do presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais,D. Nuno Brás.

O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC) afirmou na abertura da 18.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura que a renovação da arte religiosa “tem de ter a componente da hospitalidade”.

No início dos trabalhos, que debatem o tema “Edificar hoje a casa de Deus na cidade terrena”, José Carlos Seabra Pereira disse que toda a arte é uma “espécie de escrita do eu” e constitui um “apetrechamento” para viver a fé.

“A arte religiosa é um apetrechamento para viver a nossa fé, mas tem de ter a componente da hospitalidade”, sublinhou o diretor do SNPC.

Para Seabra Pereira, a renovação da arte religiosa, nomeadamente a arquitetura, deve cuidar a hospitalidade de cada crente e também a “hospitalidade para os outros”.

“Se a nossa arte religiosa se renovar como apetrechamento para viver e com uma grande arte de hospitalidade, acho que estamos a renovar bem a nossa vida e a vida da Igreja”, acrescentou.

Para o diretor do SNPC, o tema em debate na 18ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura é de uma “atualidade candente” e, tocando áreas de intervenção de outros setores da Conferência Episcopal Portuguesa, nomeadamente o Secretariado dos Bens Culturais, o que importa para o Secretariado Nacional da Cultura é inquirir o “significado dos Bens Culturais”.

“O que importa, do ponto de vista deste secretariado, é inquirirmos o significado do Bens Culturais para a vida da nossa sociedade e para aqueles que, nessa sociedade, se orientam por um humanismo cristão ou professam numa comunidade católica”, afirmou.

Para José Carlos Seabra Pereira é necessário “pensar qual o valor de uso hoje dos bens culturais”, dos “bens simbólicos que são peculiares para cristianismo”.

O diretor do SNPC considera que a “arquitetura oferece um espaço privilegiado para um concerto das artes”, em debate durante a Jornada Nacional da Pastoral da Cultura.

O debate sobre o tema “Edificar hoje a casa de Deus na cidade terrena”, numa “sessão pastoral e não académica”, acontece, durante a manhã, com intervenções do arquiteto Bernardo Pizarro Miranda e do teólogo Joaquim Félix de Carvalho.

Na sessão da tarte, as intervenções são do arquiteto João Luís Marques, do arquiteto e sacerdote jesuíta João Norton de Matos e do historiador de arte Marco Daniel Duarte; depois, Rosário Correia Machado, diretora dos Serviços Culturais do Município de Amarante, faz a conferência final, sobre “A visão de um Mestre (Siza Vieira) e a tradição de arquitetura religiosa em Portugal”.

A 18.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, promovida pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, encerra com a intervenção do presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais,D. Nuno Brás.

PR

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