Madre Teresa da Anunciada

Por António Pedro Costa

O cardeal D. José Tolentino Mendonça irá presidir às festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que se realizam de 20 a 22 de Maio e, como sabemos, ele foi nomeado, recentemente, membro da Congregação para a Causa dos Santos. Como tal, a sua presença entre nós poderá revestir-se de uma importância enorme na tomada de conhecimento da aspiração das gentes destas ilhas com vista à beatificação de Madre Teresa da Anunciada.

Um dos obstáculos que o ex-Bispo de Angra, D. João Lavrador, colocou ao processo relativo àquela freira clarissa era de que a admiração pela obra de Madre Teresa estar muito circunscrita, pelo que não teria hipóteses de ser considerada, dado ser apenas conhecida como impulsionadora do culto à veneranda Imagem do Santo Cristo dos Milagres.

No entanto, pelos próprios processos antigos conducentes à sua beatificação mostram exatamente que Deus foi muito generoso para com a Madre Teresa, dando-lhe graças e dons extraordinários, como o de prever acontecimentos e o de realizar prodígios, como consta dos processos jurídicos e da sua autobiografia existente no Mosteiro de Nossa Senhora da Esperança e esta convicção não se circunscreve apenas a esta ilha, mas estende-se por esse mundo além, onde quer que se encontre um emigrante oriundo destas ilhas.

Assim foi no passado, como é atualmente. Nos dias de hoje, há relatos de prodígios que populares dizem terem sido obtidos por intercessão de Madre Teresa da Anunciada e que merecem um acompanhamento sério e profundo, pela forma extraordinária como são relatados.

Ainda hoje, diariamente junto à grade que separa a igreja de Nossa Senhora da Esperança do coro baixo, onde está a Veneranda Imagem do Senhor Santo Cristo, centenas de devotos falam ao Senhor para agradecer com alegria graças recebidas ou pedir a intercessão de Madre Teresa em momentos de angústia e de súplica fervorosa.

No livro “A vida e virtudes de Madre Teresa D’Anunciada ”, o ex-Bispo de Angra, D. Aurélio declara que sem pretender antecipar o juízo da Santa Igreja, ele crê poder dizer que a vida da Madre Teresa foi exemplo de virtudes heroicas, atingiu vida interior profunda, alto grau de fé e de amor a Deus e ao próximo, brilhando nela uma santidade autêntica, feita de humildade e do cumprimento exato do dever e de grande penitência, tudo isto a par de um grande equilíbrio psíquico. Isto nos é profusamente manifesto no relato dos prodígios do Senhor Santo Cristo e da sua vida, que ela escreveu por ordem do confessor.

Como se sabe, D. Aurélio Granada Escudeiro foi um grande impulsionador do culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, tendo para o efeito convidado para presidirem às grandiosas festas micaelenses Bispos e Cardeais de diversas partes do mundo, e mandado que se preparasse a introdução do processo de beatificação da Veneranda Madre Teresa d’Anunciada, de que obteve da Conferência Episcopal Portuguesa o “nihil obstat”.

O Dehoniano Pe. Agostinho Pinto, numa investigação que empreendeu sobre Madre Teresa disse que, inicialmente, não apreciava a Madre Teresa porque tinha dela a ideia de uma religiosa da piedade, mas à medida que ele foi lendo os seus escritos e os foi decifrando, deparou-se com uma mulher de fibra, vigorosa e muito assertiva, ficando deslumbrado com a sua devoção esclarecida.

Segundo aquele sacerdote, que viveu alguns anos nesta ilha, a imagem que passam desta mulher não corresponde ao seu real valor. Na juventude pode ter sido dependente e limitada, mas à medida que a sua fé foi amadurecendo, ela tinha a plena convicção que o que defendia era a vontade do Senhor Santo Cristo e afrontava toda a gente, inclusive o Rei, não escondendo, por isso, a sua verdadeira paixão pela vida e obra desta clarissa. Ela já é santa, só falta que a igreja o reconheça, disse o Pe Agostinho Pinto.

O amor de Madre Teresa ao Senhor Santo Cristo e o zelo pela sua glória marcaram profundamente a alma do povo micaelense, de tal modo que jamais morreram ou afrouxaram, desafiando mesmo os tempos e continuam a comover e a enriquecer a devoção popular e a constituir um dos mais notáveis acontecimentos na vida do nosso povo, sendo este facto um autêntico milagre de fé.

Por isso, importa fazer a lembrança desta distinta clarissa, do Convento de Nossa Senhora da Esperança, cuja vida e obra se encontram amplamente divulgadas em inúmeros livros que relatam as virtudes de Madre Teresa da Anunciada. Que este seja um momento de esperança para que este processo ganha um novo impulso e possamos ter brevemente um Postulador para esta causa de beatificação, que o povo tanto anseia.

António Pedro Costa é presidente da Fundação Pia Diocesana de Nossa Senhora das Mercês

 

 

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