Lugar dos sacerdotes é “no meio das pessoas”, diz o Papa

 O Papa alertou hoje no Vaticano contra o “funcionalismo” dos sacerdotes, pedindo “proximidade compassiva e terna” com a realidade concreta.

“O lugar de cada sacerdote é no meio das pessoas, numa relação de proximidade com o povo”, disse, na abertura de um simpósio internacional de três dias, sobre o tema ‘Para uma Teologia Fundamental do Sacerdócio’.

Francisco assinalou a importância de conhecer e interpretar a realidade onde se vive, para que os padres não sejam“clérigos de Estado” nem “profissionais do sagrado”.

“Tenho a certeza de que hoje, para se compreender de novo a identidade do sacerdócio, é importante viver em estreita ligação com a vida real das pessoas, ao lado delas, sem qualquer via de fuga”, precisou.

A intervenção, que durou cerca de uma hora, partiu da experiência pessoal do Papa, com mais de 50 anos de sacerdócio, alertando para a tentação de procurar respostas na “ideologia do momento” ou de se fechar no passado.

“Não sei se estas reflexões são o ‘canto do cisne’ da minha vida sacerdotal, mas posso certamente assegurar que provêm da minha experiência. Nada de teoria, aqui, falo do que vivi”, começou por referir.

O Papa falou da crise vocacional que preocupa, em várias partes do mundo, as comunidades católicas, muitas vezes “funcionais”, mas sem “entusiasmo”.

“Onde houver vida, fervor, anseio de levar Cristo aos outros, surgem vocações genuínas”, afirmou.

O discurso apresentou aos participantes as “quatro colunas constitutivas da vida sacerdotal”, a proximidade com Deus, o povo, o bispo e os outros padres.

“Sem uma relação significativa com o Senhor, o nosso ministério tende a tornar-se estéril”, realçou Francisco.

Muitas crises sacerdotais têm origem precisamente numa escassa vida de oração, numa falta de intimidade com o Senhor, numa redução da vida espiritual a mera prática religiosa”.

Numa intervenção em que elogiou os “santos” que trabalham na Cúria Romana, o Papa convidou todos a promover espaços de silêncio ao longo do dia, rejeitando a “fuga” do ativismo”.

“É justamente aceitando a desolação que vem do silêncio, do jejum de atividades e palavras, da coragem de nos examinarmos com sinceridade, que tudo ganha uma luz e uma paz que já não assentam sobre as nossas forças e capacidades”, indicou.

O Papa destacou que a proximidade com Deus abre espaço para todas as pessoas, permitindo ao sacerdote reconhecer “as feridas do seu povo, o sofrimento vivido em silêncio, a abnegação e os sacrifícios de tantos pais e mães para manter as suas famílias, e também as consequências da violência, da corrupção e da indiferença”.

Francisco defendeu a centralidade da dimensão comunitária, como resposta ao “sentimento de orfandade”, que abunda nas sociedades em rede, com ligações mas sem pertença, e advertiu para a “perversão” do clericalismo.

simpósio promovido pelo cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, tem organização do Centro de Investigação em Antropologia e Vocações, organismo independente da Santa Sé.

 

“Vendo a tentação de nos fecharmos em discursos e discussões intermináveis acerca da teologia do sacerdócio ou sobre as teorias do que deveria ser, o Senhor olha com ternura e compaixão para os sacerdotes, oferecendo-lhes as coordenadas a partir das quais hão de reconhecer e manter vivo o ardor pela missão: proximidade com Deus, com o bispo, com os irmãos presbíteros e com o povo que lhes foi confiado. Uma proximidade com o estilo de Deus, que Se aproxima com compaixão e ternura”.

(Papa Francisco)

(Com Ecclesia)

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