Livro “Os Terceiros e os seus santos de vestir” relança temática do Franciscanismo nos Açores

A obra vai ser lançada no dia 19 de fevereiro no âmbito das comemorações do primeiro aniversário do Museu do Franciscanismo, na Ribeira Grande.

Duarte Chaves, investigador e secretário do Centro de História de Além Mar, na Universidade dos Açores, vai lançar no próximo dia 19 de fevereiro a sua mais recente obra intitulada “Os Terceiros e os seus santos de vestir”, numa cerimónia integrada nas comemorações do primeiro aniversário do Museu do Franscianismo, na Ribeira Grande, ilha de São Miguel.

 

Trata-se de um trabalho de investigação que tem como base a tese de mestrado, iniciada em 2007, com um estudo aprofundado sobre a Igreja de Nossa Senhora da Guadalupe, ligada à primeira ordem Franciscana dos Frades Menores e que até 1994 (altura em que foi encerrada ao culto por estar completamente deteriorada) funcionou como a capela do Centro de Saúde da Ribeira Grande.

 

“O livro tem, por assim dizer, duas partes reunindo primeiro um conjunto de informações sobre a ordem terceira dos franciscanos nos Açores- como apareceram, como cresceram e como foram desaparecendo- e, depois, uma segunda parte sobre a história das procissões de penitencia e a relação que elas tiveram com a sociedade”, disse ao Portal da Diocese o historiador que está neste momento a fazer o doutoramento em História de Arte na Universidade de Évora, justamente sobre esta temática.

 

As procissões penitenciais, desenvolvidas pelos terceiros para retratarem o percurso de vida de São Francisco, caíram em desuso mas nos Açores ainda se realizam na Ribeira Grande e em Angra do Heroísmo e constituem, como no passado, uma oportunidade para dar a conhecer os seus santos que aparecem sempre “muito paramentados”.

 

“É um hábito importado de Espanha, a partir do fim do século XVII e esta paramentação cria uma relação muito interessante com os leigos que ficam responsáveis por vestirem os santos anualmente, para saírem na procissão”, esclarece Duarte Chaves.

 

Quer nos Açores quer no Continente português as esculturas eram guardadas nas igrejas durante todo o ano e especialmente vestidas para as procissões penitenciais, para as quais eram paramentadas a rigor com peças valiosas e ricas, arranjadas pelos seus “curadores”, pois havia famílias a quem era entregue um santo, pelo qual ficava responsável.

 

Estas procissões caíram em desuso no arquipélago, sobretudo a partir de 1839, quando o património dos frades franciscanos foi vendido após a sua expulsão e as fraternidades quase desapareceram, à exceção da Terceira ondem os irmãos terceiros ainda têm uma “grande preponderância”. Aliás, recentemente a Fraternidade da Feteira assinalou o seu centenário, como noticiou o Portal da Diocese.

 

Também na Ribeira Grande, esta procissão mantém-se viva e, até ao ano passado, eram os irmãos da Misericórdia da Ribeira Grande que se encarregavam de paramentar os seus santos, tendo passado essa incumbência para os técnicos do Museu depois da sua abertura em Fevereiro de 2013, após sete anos de obras desenvolvidas pela Câmara Municipal da Ribeira Grande na Igreja de Nossa Senhora da Guadalupe.

 

Os franciscanos estão divididos em três ordens: a primeira dos frades menores (que ainda está presente no Convento de São Francisco na ilha Terceira com dois frades), a segunda ordem de Santa Clara e a terceira Ordem Franciscana Secular,  que é formada por leigos que decidiram seguir o exemplo de vida de São Francisco mas não fizeram os votos de castidade nem vivem em comunidade.

 

Na maioria dos casos os Terceiros, como são conhecidos, estão ligados a obras sociais de apoio aos mais desfavorecidos, tendo, juntamente com as outras duas ordens sido os “grandes responsáveis pela implementação do chamado Estado Social”, conclui Duarte Chaves.

 

Os franciscanos tiveram um papel “extremamente relevante” durante o povoamento dos Açores e , particularmente a partir do século XVII e foram a única Ordem presente em todas as ilhas, á exceção do Corvo.

 

Desenvolveram um trabalho profundo quer na assistência social, quer na fixação das populações quer, ainda, no ensino das primeiras letras.

 

O livro que agora será publicado “é o inicio de um trabalho feito por uma vasta equipa” mas que “deve ser continuado” pois “impõe-se um estudo aprofundado sobre a presença franciscana nos Açores e, sobretudo, a importância dos Terceiros nestas ilhas”, remata Duarte Chaves.

 

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