Revelação foi feita durante uma conferência que assinalou o Dia da Saúde Mental em Ponta Delgada, numa iniciativa foi do Centro de Bem estar Social de São José
A unidade de pedopsiquiatria do Hospital de Ponta Delgada, nos Açores, debate-se com um grande volume de pedidos, superior à capacidade de resposta e a lista de espera para uma primeira consulta a crianças e jovens atinge os oito meses.
A informação foi avançada hoje pelo pedopsiquiatra do Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, Bruno Seixas, à margem do III Roteiro de Saúde Mental dos Açores, indicando que na região, “uma em cada quatro crianças” tem hipótese, “ao longo do seu percurso de desenvolvimento, de ter sintomas com impacto significativo ao nível do seu desenvolvimento”.
Segundo o pedopsiquiatra, a lista de espera na ilha Terceira, onde o especialista também dá assistência, “é de 26 crianças”, mas em São Miguel, a maior ilha açoriana, “o número é superior”.
“Atualmente um caso não urgente que seja encaminhado para o Hospital de Ponta Delgada para observação pedopsiquiátrica tem que esperar mais de oito meses” para ser atendido para uma primeira consulta de pedopsiquiatria, adiantou.
“Temos um grande volume de pedidos, era necessário que o sistema de referenciação fosse afinado, mas tentamos dar resposta, embora por vezes não o consigamos em tempo útil”, disse o responsável pela unidade de pedopsiquiatria do Hospital de Ponta Delgada.
O pedopsiquiatra adiantou que são referenciadas “sobretudo” crianças “com perturbações de comportamento, muitas crianças com dificuldades escolares para despiste de problemas específicos de aprendizagem e muitos casos de hiperatividade com défice de atenção” e admitiu que possa haver uma maior incidência e casos graves “em famílias com poucos recursos e com patologia também a nível dos pais”.
No Dia Mundial da Saúde Mental, o pedopsiquiatra considerou ainda que deveria ser “reforçado o investimento” na área da saúde mental infanto-juvenil.
A coordenadora do Centro Paroquial de Bem Estar Social de S.José, entidade promotora da iniciativa, Vitória Furtado, defendeu que “é preciso efetivar o cumprimento da articulação” entre as várias instituições que trabalham na área.
A psicóloga alertou ainda que “muitas vezes” o pedido de ajuda “é adiado” pelos próprios doentes e disse que além do suporte à família também é importante reforçar o apoio psicossocial na comunidade.
O diretor da Casa de Saúde de S. Miguel, entidade parceria desta iniciativa, Pedro Carvalho, defendeu igualmente a necessidade de “reforçar as redes de suporte familiar”, indicando que a instituição tem a taxa de ocupação “quase a 100%” e uma vez mais a necessidade do enfoque no acompanhamento pós internamento, e aqui com papel importante por parte das famílias.
O III Roteiro de Saúde Mental é uma iniciativa do Centro Paroquial de Bem-estar Social de São José em parceria com a Casa de Saúde São Miguel, do Instituto São João de Deus, a Casa de Saúde Nossa Senhora da Conceição, das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e a Associação para a Promoção da Saúde Mental (ANCORAR).
A iniciativa pretende aproximar as entidades dos profissionais e a comunidade na reflexão e desmistificar algum estigma ainda associado à doença mental.
Lusa