Por Renato Moura
Alguma opinião publicada ocupa-se da compra da Twitter, por Elon Musk. Alguns admitem a melhoria da rede social; muitos consideram representar um perigo para a democracia. Outros a indagarem-se sobre o risco de o homem mais rico do mundo ter adquirido mais poder, para ganhar ainda mais.
A quem não usa redes sociais impõe-se o adágio: “não suba o sapateiro além da chinela”. Porém, utilizadores ou não têm a clara percepção do poder de influência das redes, para moldar formas de actuar e do próprio ser; e dos critérios simplificados de julgamento.
Porém, se atentos, encontraremos muitas outras máquinas poderosas de propaganda.
Alguns exemplos: os partidos políticos afirmando doutrina e promessas, sem cumprimento; os governos, através de programas, planos, orçamentos, discursos, entrevistas, declarações, notas dos gabinetes de comunicação, tantos deles sem concretização posterior; os comentadores declaradamente afectos a um ideário político ou desportivo, ou disfarçadamente isentos – o que é muito pior e mais perigoso – enviesando ideias e torcendo opiniões; departamentos governamentais e instituições públicas, através da televisão, rádio e jornais, com recurso a serviços e métodos profissionais, a valorar e difundir acções e eventos incapazes de se afirmar por si mesmos.
Por vezes podemos ser levados ao engano, até com a verdade, ou parte dela. Revelar que se contrataram muitos novos profissionais de saúde é usual para dar a ideia de o SNS estar melhor; mas se muitos mais se tiverem aposentado e abandonado, o resultado é negativo. É bom ouvir dizer e aparentemente verdade, que os governos diminuem o ISP, mas os combustíveis estão mais caros: há imbróglios por esclarecer. Estão a ser divulgadas séries de sanções à Rússia, aplaudidas na convicção de eficácia; mas se vier a adquirir-se petróleo russo em fornecedores encapotados, é propaganda enganosa.
A esmagadora maioria dos ocidentais é solidária com a Ucrânia e apoia as ajudas à defesa do seu povo e da sua causa. Tomam-se como actos de nobreza humanitária e reposição da justiça face à ignóbil invasão. Como compreender a declaração da Presidente da União Europeia, de que a reconstrução da Ucrânia vai abrir oportunidades?!
A liberdade de expressão e informação é um direito inalienável. O uso sem limites, ou irresponsável, da capacidade, seja das redes ou dos poderes instituídos, é risco com consequências fatais.
Não há polígrafos que cheguem para apurar as verdades. Então só a análise e o discernimento podem evitar que nos levem ao engano