Por Renato Moura
No passado dia 5 a Diocese de Angra assinalou o 489.º ano da sua criação, pela Bula Aequum Reputamos, do Papa Paulo III, de 5 de Novembro de 1534. O nosso Bispo comemorou a data com a celebração de Missa e proferiu uma homilia de profundo conteúdo, quando se começa a preparação para a celebração dos 500 anos da Diocese.
Há documentos episcopais cujo conteúdo deveria ser objecto de um muito maior conhecimento em toda a Diocese, alargando e diversificando os meios de divulgação. Com muito proveito poderiam até, em certas circunstâncias, constituir a base de algumas homilias dominicais. Não resisto a citar aqui algumas dessas afirmações significativas.
D. Armando pediu para não nos fixarmos numa Igreja que, por palavras, diz querer aplicar o Concílio “mas que depois actua com categorias pré-conciliares através de práticas estabelecidas, com bispos e padres a decidirem e os outros baptizados a limitarem-se a pôr em prática as suas decisões”. Lembrou como “temos de olhar para o Nazareno para recuperar a Igreja, a todos os níveis, desde a Cúria até à mais pequena das paróquias, a consciência de que todo o ministério é serviço e não poder”. Enumerou depois funções da Igreja, como a de aproximar, unir, tornar corresponsáveis, criar fraternidade, testemunhar a misericórdia de Deus; e não se distanciando, não se entrincheirando em privilégios, não traçando divisórias entre os que são ordenados e os que não são.
Disse, além de muito mais, desejar uma “Igreja de serviço” onde “possamos reflectir juntos, governar juntos e decidir juntos”. Tem revelado, por palavras e acções, respeitar o Evangelho, em perfeita comunhão com o pensamento e a orientação do Papa Francisco. E não é de somenos, pois bem sabemos ainda haver na hierarquia da Igreja demasiados a tentarem resistir às mudanças indispensáveis, a esforçarem-se para a manutenção de um poder que não corresponde a serviço, a não quererem aceitar, com todas as consequências, que Igreja somos todos, tal como Jesus demonstrou ser de todos.
A exemplo das árduas adversidades enfrentadas pelo Papa, também o Bispo encontrará dificuldades para renovar a Igreja açoriana. E nem todas as resistências virão de alguns sacerdotes mais idosos, formados numa e para uma postura de poder, mas provavelmente de alguns bem novos com inexplicável sentir pré-conciliar; e também de alguns leigos estruturalmente instalados e repulsivos à abertura.
Que rezem os crentes. Que os demais não se fechem ao diálogo franco. Estar juntos implica a disponibilidade de quem possa.