Ação de florestação é uma iniciativa do projeto Horta Comunitária das Laranjeiras, com o apoio dos Serviços Florestais e do Serviço Diocesano à Juventude
No próximo dia 1 de fevereiro, entre as 10h00 e as 16h00, jovens de várias ouvidorias de São Miguel, mobilizados pelo Serviço Diocesano à Juventude, vão juntar-se aos cerca de 40 amigos da Horta Comunitária das Laranjeiras e aos seus fundadores (cerca de uma dezena) para, em conjunto com os Serviços Florestais em Ponta Delgada, promoverem uma ação de restauro do ecossistema natural, através da plantação de mata endémica nos espaços em redor do edifício principal do Centro Pastoral Pio XII.
Esta ação resulta de um projeto apresentado à Diocese por parte do grupo que gere a Horta Comunitária das Laranjeiras, para acrescentar valor à zona envolvente ao edifício do centro Pastoral Pio XII.
A ideia de que o desenvolvimento e o progresso das cidades deve conviver com a criação ou manutenção de espaços verdes e que o desenvolvimento sustentável só será conseguido se homem e natureza viverem em harmonia é porventura uma das premissas do projeto Horta Comunitária das Laranjeiras, que nasceu de uma parceria entre um grupo de amigos, preocupado com as questões de restauro ecológico e aproveitamento dos solos, e a Diocese de Angra.
O acordo prevê a cedência de utilização de cerca de 2 mil metros quadrados de uma zona de terrenos de cultivo a um grupo de pessoas que se propõe a cultivar e tratar voluntariamente a regeneração do ecossistema natural através das ferramentas disponíveis. Em contrapartida os mentores da Horta Comunitária das Laranjeiras, nome do projeto, devem assegurar a limpeza dos espaços verdes do centro Pastoral Pio XII.
“Em vez de andarmos a roçar relva todos os meses conseguimos através desta parceria com os Serviços Florestais acrescentar valor à zona verde envolvente ao edifício, restaurando ecologicamente a zona”, referiu ao Igreja Açores Marta Anula Diniz, galega e já com experiência de voluntariado na reflorestação de espaços ardidos, como foi o grande incêndio da Serra de Sintra, na área metropolitana de Lisboa, que obrigou a repensar toda a reflorestação desta área.
Esta ação que envolverá os jovens mobilizados pela pastoral diocesana da juventude será a primeira de uma série de ações que estão pensadas para sensibilizar os jovens para a importância da ecologia integral, na lógica da encíclica Laudato si, publicada pelo Papa Francisco em maio de 2015.
O trabalho em redor da horta tem sido basicamente a preparação para a primeira sementeira que será feita na primavera.
“O nosso projecto de promover uma horta biológica num espaço citadino prende-se com este desejo de preservar espaços verdes que têm vindo a ser engolidos nas cidades. As áreas verdes estão a desaparecer e nós queremos tomar conta deles para que isso não aconteça” , esclarece Marta Anula Diniz.
“Mexer na terra e ver as coisas crescerem é uma coisa muito bonita. Depois, ver como as pessoas podem ser solidárias e juntar esforços a partir do cultivo da terra também é muito interessante” refere esta jovem que se assume como uma “guardiã”.
“É um conceito da sóciocracia e nós, no grupo, temos vários guardiães, isto é, pessoas que fazendo parte de um projecto são chamados a tomar decisões sobre este mesmo projecto. Isto requer conhecimento e requer compromisso pois, no caso da horta, todas as decisões tomadas, são tomadas em conjunto” acrescenta.
No futuro a Horta Comunitária das Laranjeiras poderá ser um espaço de diálogo com o bairro das laranjeiras, conhecido pelos inúmeros problemas sociais que encerra.
“Seria muito bonito. Temos consciência do sítio onde estamos e queremos fazer alguma coisa. Temos conhecimento do efeito de empoderamento que a terra dá na resposta a questões sociais e por isso também gostaríamos de dar esse passo mas ainda não temos os interlocutores”, referiu.
A agricultura regenerativa e o restauro ecológico são dois conceitos modernos que visam proteger os espaços verdades, sobretudo, dentro das grandes cidades promovendo uma ligação do homem à terra e consequentemente uma maior consciência no seu cuidado.
“Na horta cada um tirará para o seu sustento o correspondente ao esforço que desenvolveu. Há pessoas mais comprometidas que outras e por isso darão mais tempo ao projeto” prossegue lembrando que neste momento “outros guardiães” do projeto estão empenhados em promover parcerias que garantam o fornecimento de sementes ou até de instrumentos para o trabalho da terra.
“A horta servirá as pessoas. Não haverá trocas comerciais” refere assegurando que essa foi uma exigência do acordo.
A sementeira da primavera será a grande estreia.
“Esta semana teremos a florestação e no próximo sábado, dia 8, teremos uma reunião para fazer um ponto de situação e decidirmos o que vamos deitar à terra. Trazer as pessoas de volta à terra e criar-lhes o gosto pela terra dá outra perspetiva” conclui.
Recorde-se que ao longo de mais de cem anos a Doutrina social da Igreja tem procurado promover este equilíbrio, apontando a um desenvolvimento sustentável. E, mais recentemente, em 2015 na encíclica Laudato Si, o Papa Francisco lembra que “A crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior”.
Na carta aos católicos e a todos os homens, Francisco inovou ao tratar de um tema contemporâneo, pregando o rompimento com o que chama de “antropocentrismo despótico, que se desinteressa pelas outras criaturas”.