Pastoral Juvenil organizou via-sacra jovem, que por causa do mau tempo foi feita na Igreja de São José
Os jovens açorianos acabam de escrever uma carta ao papa Francisco pedindo-lhe que seja o defensor de um mundo, de uma igreja e de uma sociedade “sem medos nem fingimentos”, onde os jovens sejam os protagonistas.
“Sonhamos com um mundo, uma Igreja e uma sociedade em que valha a pena sermos jovens sem medos ou fingimentos, onde nada nem ninguém nos roube a alegria de sonhar e viver, onde possamos ser quem somos, dando o nosso melhor e, mesmo quando erramos, quando falhamos, saber que estamos a caminho e a crescer, dando o nosso melhor e, sobretudo, que nunca deixamos de ser queridos e amados pelo nosso Jesus” diz a carta entregue esta tarde ao Núncio Apostólico, num encontro promovido pela pastoral juvenil, em Ponta Delgada, para assinalar este Domingo de Ramos.
Os jovens açorianos pedem ao Papa que “sonhe com eles e juntos sonhemos os sonhos de Deus”.
“Consigo, Papa Francisco, Jesus fica-nos mais perto e acessível! Obrigado! Obrigado pelo seu “Sim” e pelo que é! Agora dizemos-Lhe como já nos disse: “não deixe que lhe roubem a esperança, a ousadia e a alegria”, refere a carta que fala abundantemente da importância dos jovens serem os protagonistas “do hoje” da Igreja e do mundo”, afirmam.
“Coragem”, “ousadia”, “fidelidade”, “testemunho”, “simplicidade” e “humildade” são porventura atitudes mais sublinhadas na missiva que os jovens enviam para o Vaticano, assumindo o compromisso de não desistir da defesa dos valores cristãos.
“Não queremos deixar que nos roubem a esperança e a alegria! Mas, Santo Padre, há momentos em que é difícil que isso não aconteça! Há momentos em que parece que nada faz sentido, onde faltam-nos razões para continuarmos a acreditar!” dizem os jovens açorianos denunciando os “ventos contrários” e o “mar revolto” que tornam “difícil reconhecer e sentir que Jesus está na barca connosco e, mesmo dormindo, não nos deixa morrer!”.
A guerra em vez do diálogo; a morte de crianças inocentes; as famílias desfeitas; a fome e a injustiça são algumas das denuncias que os jovens enumeram nesta missiva entregue a D. Ivo Scapolo.
“É-nos difícil, como jovens, aceitar que na nossa Igreja ainda exista tanta hipocrisia e tanta falta de verdade, onde, por vezes custa-nos reconhecer Jesus na vida e na ação de tantos que se dizem cristãos!”, dizem ainda alertando para a primazia do “ritualismo” em detrimento do verdadeiro cristianismo.
Na carta, os jovens açorianos comprometem-se ainda a participar ativamente na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa.
“Encontrar-nos-emos em Lisboa para partilharmos uns com os outros e consigo, a alegria de acreditarmos em Jesus, de sermos Igreja e de sermos jovens. Tal como nos pede, creia que rezamos por Si!”.
Na missiva vai, ainda um post scriptum relativo à sede vacante em que a diocese de Angra se encontra desde o dia 21 de setembro de 2021: “A nossa Diocese está sem bispo há já alguns meses! Apesar de não sermos “ovelhas sem pastor”, logo que seja possível, envie-nos um Bispo que seja pastor, próximo, que nos escute e nos compreenda, que seja um de nós e um por nós!”.
O Núncio Apostólico recebeu a carta e dirigindo-se aos jovens, que enchiam a Igreja de São José em Ponta Delgada, pediu-lhes que não se acomodem, que se levantem e sejam protagonistas.
Os jovens participaram esta tarde numa via-sacra que no inicio estava prevista para o Campo de São Francisco, em Ponta Delgada, mas que devido ao mau tempo acabou por ser feita no interior da Igreja.
A iniciativa, que mobilizou também a catequese da ilha, particularmente os jovens do 7º ao 10 º ano, assentou em passagens bíblicas mas procurou enquadrá-las no momento atual do mundo, com meditações, numa linguagem simples e direta, com muitas referências concretas à realidade quotidiana.
“Depois da Via-Sacra de Jesus, todas as nossas vias são sacras, quando o olhar se torna compaixão, as palavras acolhimento e os gestos misericórdia, quando o outro é feito irmão e todos se tornam cireneus de um mundo em via-dolorosa”, começava a introdução deste itinerário.
“Não nos basta a cruz de Cristo: precisamos do Cristo da Cruz, Aquele Cristo tão profundamente humano que diviniza gestos e olhares, que santifica o que acolhe e liberta, Aquele Jesus que percorre as estradas das nossas vidas e do mundo, assumindo as nossas cruzes e quedas, imprimindo o Seu rosto nos lenços das nossas lágrimas e, no alto do Calvário continua a dar-Se para que tenhamos vida e vida em abundância”, prosseguia.
A via-sacra, orientada pelo responsáveis da pastoral juvenil- assistentes e leigos- desafiou os presentes “ a partir, subindo a via-dolorosa do “Jesus” do nosso tempo, subindo ao Calvário das dores, angústias e esperanças de todos e de cada um, deste mundo e da nossa Igreja”.
Nas 14 estações foram abordados temas como a indiferença; o sacrifico; a misericórdia; a confiança; o desprendimento; a compaixão; o testemunho; a consolação; o encontro; o acolhimento; a conversão; as periferias humanas e existenciais; a oração; o amor ou o perdão, entre outros, a partir de passagens bíblicas como a condenação de Jesus, o encontro com as irmãs de Lázaro em Betânia, o encontro com a mulher adúltera; crucificação de Jesus; a parábola do grão de mostarda, etc.
Esta manifestação da juventude açoriana, dois anos depois do inicio da pandemia, serviu também para simbolizar a memória do Dia Mundial da Juventude que desde o ano passado passou a ser celebrado no domingo do Cristo Rei, depois de ter sido celebrado durante décadas no Domingo de Ramos.