O Secretariado Nacional das Comunicações Socais (SNCS) e a Obra Nacional da Pastoral do Turismo (ONPT) promoveram hoje um colóquio sobre os desafios da era pós-pandemia nos respetivos setores, pedindo atenção e tempo para as pessoas.
D. João Lavrador, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Socais, convidou os participantes, reunidos no Santuário da Mãe Soberana (Diocese do Algarve) e na transmissão online, a reconhecer o papel dos jornalistas para “dar voz” a quem sofre com a pandemia, num trabalho de proximidade.
O bispo de Angra deixou uma palavra de “felicitação” a todos os que trabalham nos media, em particular a nível das dioceses católicas, e realçou o apelo do Papa para uma “informação com sabedoria”.
O encontro contou com um comentário à mensagem de Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais 2021 (16 de maio), que desafia os media a sair das redações para ir ao encontro do quotidiano das pessoas.
Olímpia Mairos, da Rádio Renascença, sublinhou a importância do tema escolhido pelo Papa, ‘«Vem e verás» (Jo 1, 46). Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são’, falando no “risco de não sair da cadeira” e de ser “meros repetidores”.
A jornalista considera que a mensagem do Papa representa um desafio de “desinstalação” ao jornalismo que se faz atualmente.
“Temos vindo a regredir”, advertiu a jornalista, que acompanha habitualmente a atualidade em Trás-os-Montes e Alto Douro, convidando a “fazer diferente”.
Miguel Domingues, jornalista do Algarve que trabalha na SIC, destacou na sua intervenção a importância de ouvir as pessoas e de ter “tempo” para o trabalho de “encontrar histórias”.
“O jornalista só é um verdadeiro jornalista quando está no terreno”, sustentou.
O convidado falou em redações cada vez mais preenchidas por “recolectores de informação”, diante do computador, sem capacidade de contrariar o “imediatismo”.
Lília Almeida, da Antena 1 Açores, reforçou esta preocupação com a ausência de “tempo” e de recursos humanos para o trabalho jornalístico, em contraponto com uma maior “pressão” para reagir cada vez mais depressa.
“Num telefone, não temos os sentimentos, os silêncios. Não é a mesma coisa”, exemplificou.
Numa intervenção enviada à Agência ECCLESIA, o padre Francisco Barbeira, diretor do jornal “A Guarda”, alerta que “as pessoas vivem cada vez mais isoladas, fechadas sobre o seu próprio mundo que muitas vezes se resume a um telemóvel ou a um computador com acesso à internet”.
“Nesta região do interior, hoje mais do que nunca, a imprensa regional tem um papel importantíssimo e insubstituível na promoção e divulgação da memória colectiva e na preservação de tradições ancestrais, ao mesmo tempo que abre novos caminhos de integração”, sustenta.
O sacerdote considera que o convite do Papa a “ir e ver” ganha “cada vez mais sentido e força na informação de proximidade de que os meios regionais são os grandes arautos”.
O painel sobre o tema da comunicação encerrou-se com a intervenção da diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Socais, Isabel Figueiredo.
“É necessário que, enquanto consumidores de comunicação, façamos a nossa parte”, apelou, propondo um “discernimento da escuta”.
Na sua mensagem para o 55.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco afirma a necessidade de ir ao encontro da “vida concreta”, no trabalho jornalístico, particularmente neste momento de pandemia.
“Há o risco de narrar a pandemia ou qualquer outra crise só com os olhos do mundo mais rico”, alerta.
O Papa critica a informação “pré-fabricada, ‘de palácio’, autorreferencial”, que se desliga da “verdade das coisas e da vida concreta das pessoas”.
“A crise editorial corre o risco de levar a uma informação construída nas redações, diante do computador, nos terminais das agências, nas redes sociais, sem nunca sair à rua, sem ‘gastar a sola dos sapatos’, sem encontrar pessoas para procurar histórias ou verificar com os próprios olhos determinadas situações”, escreve.
(Com Ecclesia )