Pelo Pe. Hélder Miranda Alexandre
Ottavio De Bertolis, afirma que “a arte é a ciência do irrepetível”! Procurar o original, o único, constitui um alento para um espírito que não se deixa abafar pela frugalidade. Comprar e reproduzir o que outros fizeram é fácil, e banal. Serve para desenrascar, até para sobreviver, mas nem sempre dá sabor.
Quem quer viver, e viver em plenitude, não se contenta com o passar dos dias. Há em todos nós um desejo de eternidade, numa luta incessante contra a maior das certezas, a morte. Por isso, admiramos a conquista da natureza, o génio artístico expresso na música, na literatura, na poesia, na pintura, ou o fascínio da amizade e do amor, dos olhos inocentes de uma criança, de uma obra nobre, ou o sacrifício da própria vida.
Em 2009, na Capela Sistina, Bento XVI, discursou aos artistas: “O teólogo Hans Urs von Balthasar começa a sua grande obra intitulada Glória. Uma estética teológica com estas sugestivas expressões: a nossa palavra inicial chama-se beleza. A beleza é a última palavra que o intelecto pensante pode ousar pronunciar, porque ela mais não faz do que coroar, como auréola de esplendor inapreensível, o dúplice astro do verdadeiro e do bem e a sua indissolúvel relação” (…). Portanto, o caminho da beleza conduz-nos a colher o Tudo no fragmento, o Infinito no finito, Deus na história da humanidade. Simone Weil escreveu a este propósito: “Em tudo o que suscita em nós o sentimento puro e autêntico da beleza, há realmente a presença de Deus. Há quase uma espécie de encarnação de Deus no mundo, da qual a beleza é o sinal. A beleza é a prova experimental de que a encarnação é possível. Por isso qualquer arte de categoria é, por sua essência, religiosa”.
Expressar o inefável, o indiscritível, é obra de génio, de artista, de um santo! Se notarmos bem, a fé tem de se manifestar no bom, e, consequentemente no belo, como propriedades essenciais do ser. Por isso, o belo tem sempre algo de fé.
O Seminário de Angra vem, assim, procurar desbravar este terreno nas II Jornadas de Teologia, a decorrer entre os dias 27, 28 de Fevereiro e 1 de Março. O tempo disponível, apenas nos permite pincelar algo muito profundo, que não é inédito, nem se pode esgotar. Fica o desafio para quem quiser ousar falar de Deus, do transcendente. A literatura é arte, e como tal aponta para o transcendente, sabendo que “quando falamos de Deus a boca sabe-nos a terra”.
Assim escreveu um grande da nossa literatura:
“Então acredito Nele,
Então acredito Nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.”
Alberto Caeiro
Quantos tesouros por aí escritos!