Professor Nuno Martins sublinha que o combate às desigualdades é o grande desafio das sociedades atuais
Perante a desigualdade e o crescimento acentuado dos problemas ambientais a sociedade deve promover uma maior articulação entre o estado, a universidade e as empresas para, em conjunto, pensarem um modelo de desenvolvimento sustentável que garanta o futuro da humanidade, disse o professor de economia da Universidade Católica do Porto na intervenção que proferiu nas I Jornadas de Teologia dos Açores, sob o tema “Cristianismo e Cultura”.
“O grande desafio é encontrarmos modelos sustentáveis económica e ambientalmente e a Doutrina Social da Igreja pode ser uma ajuda importante porque os seus princípios, apesar de alguns problemas, são os mais resilientes para ultrapassar as desigualdades sociais e geográficas”, afirmou o economista açoriano que leciona no Porto.
Nuno Martins foi um dos dois oradores do segundo dia das I Jornadas de Teologia promovidas pelo Seminário Episcopal de Angra onde proferiu uma comunicação sobre Capitalismo e Doutrina Social da Igreja. E, deixou um alerta: “é preciso pensar melhor o que é o capitalismo, onde nos está a levar” pois “esse processo de concentração de riqueza nunca nos conduziu a bons resultados” e a prova está “no agravamento das desigualdades”.
O docente universitário frisa que a solução tem de passar por uma “maior articulação entre o Estado, as empresas e a Universidade, mas numa relação em que o Estado não se demita da sua função reguladora e as empresas não criem um sistema de opacidade que impeçam o estado de regular”.
O economista falou do atual momento político mundial, marcado em 2016 pelas vitórias do Brexit, em Inglaterra, e de Donald Trump, nos Estados Unidos, para afirmar que estas escolhas são fruto “das desigualdades”.
“O que aconteceu é que as pessoas devido às desigualdades e à incompreensão do sistema quiseram votar contra o sistema e ninguém lhes explicou, numa linguagem acessível e clara, uma alternativa plausível; por isso votaram numa coisa diferente apresentada por outsiders que falaram para as pessoas”, disse.
“A meu ver Trump não está preocupado com a sociedade norte americana mas falou como se estivesse. E criou a ideia de que estava enquanto todos os outros se apresentaram como candidatos do sistema que criou as tais desigualdades”, precisou.
“A desigualdade continua a ser a grande questão e o que precisamos de saber é se haverá respostas a estes problemas, adequadas ao tipo de sociedade que pretendemos ou se a solução é mesmo outsiders ao sistema saírem do seu espaço e irem falar com as pessoas, numa linguagem que elas compreendam”, concluiu.
No segundo dia das Jornadas de Teologia usou, também da palavra o professor universitário Brandão da Luz. O docente da Universidade dos Açores defendeu o regresso aos temas da mundivivência cristã.
“A crise religiosa que afeta a sociedade e que todos conhecemos causa algum constrangimento e deve-se essencialmente ao facto da ética ter sido afastada de certa forma do direito e da economia”, disse Brandão da Luz defendendo o regresso a uma ética cristã que tenha como primado o conhecimento da raíz e dos fundamentos das coisas.
As jornadas de teologia dos Açores terminam hoje em Angra do Heroísmo, com as duas intervenções dos professores Jorge Cunha da Universidade Católica do porto e José Júlio Rocha da Universidade dos Açores sobre o valor e o sentido da verdade nas sociedades contemporâneas.
(Com Nuno Pacheco de Sousa e André Furtado)