Para João Maria Brum, condutor da assembleia na celebração da palavra em Ponta Dlegada João Paulo II deixou um enorme legado na discução conciliar que se fez na diocese.
Após a primeira visita pastoral do Papa João Paulo II a Portugal em 1982, o Senhor D. Aurélio, Bispo de Angra, havia afirmado a um restrito grupo de clero da nossa Diocese que “não morreria sem ver com os seus próprios olhos o Papa João Paulo em terras açorianas e tudo faria para que tal acontecesse”.
Uma convicção, sem dúvida, no mínimo muito ousada porque sabíamos muito bem da nossa dimensão e Roma sempre privilegiara os grandes palcos como meio da afirmação do cristianismo, aproveitando-se para o efeito as fabulosas estradas de comunicação que os media hoje nos oferecem para que a mensagem do Evangelho chegue a todos os lares.
Mas o coração deste Papa que veio da Polónia palpitava bem diferente e a sua paixão como grande pastor da humanidade inteira não excluía ninguém do seu rebanho por mais pequeno que fosse.
Espanto dos espantos. Anunciada a sua segunda visita pastoral a Portugal em 1991, lá estava incluída uma visita à Diocese de Angra, nomeadamente, à Terceira e a São Miguel, fruto da persistência e sã teimosia do Senhor D. Aurélio junto da Conferência Episcopal Portuguesa e com o beneplácito e convite Institucional do Governo Regional dos Açores, na pessoa do seu Presidente o Senhor Dr. João Bosco Mota Amaral.
Dito e feito como diz o povo.
João Paulo II nos Açores era agora tema obrigatório de conversa em cada família, em cada comunidade cristã, em cada lugar onde existisse um açoriano, seja cá, seja em terras de diáspora.
A dúvida deu lugar à certeza. A certeza deu lugar à alegria. A alegria deu lugar ao entusiasmo. O entusiasmo deu lugar à preparação. Foi o que fizemos.
Quando falo de preparação, não gostaria somente de referir os muitos afazeres importantíssimos para a celebração da Palavra que teve lugar em frente ao Forte de São Braz num magnifico cenário imaginado pelo arquiteto Francisco Gomes de Menezes e executado pela mão de ferro da Américo Natalino Viveiros, titular na altura da Secretaria da Habitação e Obras Públicas, mas sobretudo, da formação que durante seis meses fizemos nas nossas comunidades.
Importava refletir, aproveitando este momento único da visita papal, na Igreja que fomos, na Igreja que somos e na Igreja que queríamos ser.
Na Igreja que fomos, pelo muito de bom que o cristianismo nos deu nos nossos quinhentos anos de História, teimosamente agarrados a estes pedaços de pedra maravilhosos como que semeados em pleno Atlântico.
Na Igreja que somos, se estávamos ou não a ser fiéis ao Evangelho de Jesus e às nossas grandes tradições culturais e religiosas.
Na Igreja que queríamos ser e que estávamos a construir, se era a Igreja que tinha saído dos documentos conciliares. Neste aspeto, nunca se estudou tanto a constituição conciliar “A Igreja, luz dos povos.”
Foi um trabalho enorme, feito na interioridade das nossas comunidades, no silêncio, na oração, na reflexão e que ainda provavelmente não se avaliou bem o seu enorme alcance.
Quanto ao resto, convidado pelo saudoso Monsenhor José Ribeiro para fazer parte da comissão litúrgica e de uma outra de animação aos milhares de pessoas que acorressem ao campo de São Francisco, esta liderada pela competência de Victor Cruz (filho), mantive de facto um contacto privilegiado com esta figura extraordinária que marcou indelevelmente a História do mundo nos finais do século XX, e sobretudo, da nossa Igreja aquando do seu longo e profícuo pontificado.
Ele era de facto um Homem de Deus. O seu porte nobre, mas simples e profundamente humano, o momento de oração perante a veneranda imagem do Senhor Santo Cristo, a sua brilhante reflexão da Palavra com Maria na escuta e Marta demasiada ocupada com as tarefas caseiras, o abraço a cada sacerdote presente tocaram profundo o coração dos milhares de micaelenses que enchiam por completo o Campo de São Francisco, de modo especial os milhares de jovens que fizerem a festa à sua maneira e que tanto emocionou o Papa João Paulo II.
Foram momentos inesquecíveis de acrisolada alegria, de profunda riqueza espiritual e que marcaram, sem dúvida, a Igreja que está nos Açores. Dificilmente a nossa geração esquecerá esses momentos tão marcantes como foi a visita de João Paulo II a terras açorianas.
Agora no Céu, elevado à dignidade de Santo, com outro grande vulto da Igreja dos nossos tempos, o saudoso Papa João XXIII, não tenho duvida, que intercede por nós junto do nosso Pai e nosso Deus, para que não percamos o rumo certo da gente que somos e do povo que formamos.