“Jesus não fala ao telemóvel; se queremos encontrar-nos com Ele temos de falar a partir do coração” afirma Policena Vasconcelos

Catequista há 60 anos em Ponta Delgada, na ilha das Flores, guarda o mesmo entusiasmo de sempre: “faço o melhor que posso e sei para ser testemunha de Jesus”

Policena Vasconcelos é catequista há 60 anos na paróquia de Ponta Delgada, na ilha das Flores. Começou a ajudar os meninos e as meninas a fazer as orações mais simples” a pedido do padre da freguesia, quando tinha 13 anos.

Hoje já dá catequese a netos de casais que foram seus catequizandos no passado porque as avós foram mães cedo.

“Houve um tempo em que havia muitas catequistas e muitas crianças. Hoje já não é assim e a tendência tem sido sempre de diminuição”. Ponta Delgada é uma das paróquias mais pequenas da ilha e da diocese. Situada na ilha das Flores, o ponto mais ocidental da Europa, sofre do envelhecimento populacional e, sobretudo, da desertificação. Os jovens saem para estudar e são poucos os que regressam por falta de horizonte laboral.

“O ano passado tive dois grupos e este ano pediram-me para continuar com um deles, mas é um bocadinho difícil pois a catequese exige uma grande preparação semanal e ter dois grupos significa ter de preparar muitos conteúdos diferentes porque cada grupo é um grupo”, refere Policena Vasconcelos, solteira, oriunda de uma família católica, com uma irmã religiosa e um sobrinho padre.

“Nunca tive filhos e na catequese sinto que vou tendo filhos espirituais. É assim que os considero”, afirma ao Igreja Açores lembrando que hoje “os desafios são outros porque os tempos são outros”.

“Não é mau nem bom, é diferente e nós temos de ser capazes de nos adaptar, mas com a certeza de que o Evangelho é o mesmo e Jesus também”.

“Hoje os rapazes e raparigas usam telemóvel- são a geração telemóvel- mas eu estou sempre a dizer-lhes: olhem que Jesus não vos vai contactar por telemóvel e eles riem-se”. Mas, “é verdade: estou sempre a dizer-lhes se não o procurarem no vosso coração não o conseguem encontrar”.

“Isto é o essencial do trabalho do catequista: cativar para a fé. Como? Mostrando Jesus e agindo como ele agiria”, afirma a catequista.

“O testemunho é muito importante e por isso rezo pelas famílias para que dêem testemunho. A catequese não é só para as crianças; é para todos nós. Quantas vezes tenho hoje dúvidas que não tinha na minha adolescência ou na minha juventude? Às vezes até a partir de questões colocadas pelos jovens”, refere com um entusiasmo contagiante.

“Sei que já sou mais avozinha que catequista e por isso já não consigo entusiasmar como uma pessoa jovem, mas tento fazer o melhor que sei e posso. Esse é o meu compromisso. Já o disse ao senhor padre Jorge (Pe. Jorge Sousa- responsável pela catequese na ilha das Flores)

O que gostaria no futuro? “Que houvesse mais ligação entre paróquia, família, catequese e catequista.

“Infelizmente hoje não se reza em família; vai-se à igreja pedir os sacramentos, mas não se vivem os sacramentos. Falta muita oração e, sobretudo, encontro com Deus”.

Policena Vasconcelos foi uma das 130 catequistas oriundas dos Açores que participaram no Encontro Nacional de Catequistas, que decorre em Fátima até domingo.

 

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