Jesus é “a luz que irrompe nas trevas densas da nossa humanidade”

Bispo de Angra elenca dificuldades criadas pela pandemia e pede aos cristãos para não terem medo

O bispo de Angra presidiu esta noite à Missa da noite de Natal na Sé de Angra e pediu aos cristãos para não terem medo, mesmo diante das dificuldades criadas pela pandemia.

“Esta pandemia apresentou-se verdadeiramente como trevas e escuridão, lançou por terra todas as certezas técnicas e cientificas, desmoronou a sociedade e desarticulou as comunidades, gerou medo e mesmo pânico, criou novos focos de pobreza e de exclusão, travou a expressão de afectos e lançou sobre a humanidade uma inquietante pergunta sobre o sentido presente e futuro” afirmou D. João Lavrador na homilia da Missa do Galo, que foi transmitida, em direto, pela RTP Açores.

“Estamos a viver o Natal do Senhor, chamados a não ter medo” afirmou o prelado diocesano pois com o “ Seu nascimento é-nos comunicada uma Boa Nova que o é para todo o Povo”.

Na situação atual em que vivemos, referiu D. João Lavrador, “urge reconhecer que esta é a mesma interpelação a deixarmos o medo. Não queremos uma religião do medo, não desejamos uma cultura do medo, não aceitamos uma sociedade cujas relações são pautadas pelo medo uns dos outros; porque O Messias que hoje nasce para nós é o Príncipe do amor e da Paz; como Salvador e Redentor, vem convidar-nos a edificarmos uma nova criação e a estabelecer entre nós relações de verdadeira fraternidade.”

“A luz que irrompe nas trevas densas da nossa humanidade não é uma ideologia, nem um código de leis, não se limita a projectos arquitectados pela mente humana, nem a liderança de grupos que se sentem iluminados para comandarem os seus semelhantes, mas sim na Pessoa de um Menino que nos foi dado e num Filho que nos foi concedido”, referiu.

Mas esta “ luz nova” sobre a realidade atual, esclarece, lança “o desafio à missão concreta junto dos irmãos”.

“Somos uma única família humana e como tal partilhamos dos dons da criação e da salvação” frisa.

“Estamos perante um desafio a clarificar a nossa fé cristã mas também a sintonizar com aqueles com quem Jesus de Nazaré se quis identificar, os pobres e os excluídos, as crianças e débeis”, clarificou ainda o prelado.

D.João Lavrador lembrou que a humanidade, apesar de todos os avanços da ciência e dos progressos da técnica, continua envolta em escuridão. Trevas na inteligência, nos afectos, na sensibilidade, na ternura e na compaixão e sobretudo na fraternidade”. Sobretudo, uma escuridão “que não deixa ver o outro como irmão, não possibilita acolher quem está excluído, não aceita o diferente, não se abre à luz que ilumina o sentido da vida pessoal e comunitária”.

D. João Lavrador lembrou, ainda, que a revelação do Deus-menino exige, por outro lado um “total despojamento” dos cristãos.

“É, sem duvida, no espaço geográfico em que se desenvolve a vida pessoal e comunitária, é no contexto cultural concreto em que vivemos, onde predomina o descarte da pessoa, o cepticismo em relação a Deus, o relativismo ético e o desprezo pelo ambiente; é nas situações reais da nossa sociedade tantas vezes marcadas pela indiferença, pela pobreza, marginalidade, exclusão, individualismo e egocentrismo, que somos chamados a descobrir e a viver a encarnação de Jesus de Nazaré que continua a actuar em nós e através de nós na libertação do Seu Povo”, destacou ainda.

Em plena caminhada sinodal “a Encarnação de Jesus Cristo na história dos homens e mulheres de cada tempo é, sem dúvida, de uma exigência profunda para a missão evangelizadora da nossa diocese”, concluiu.

A Missa do Galo, uma das quatro celebrações do Natal, terminou com a tradicional veneração à imagem do Menino-Jesus mas sem a osculação ou toque na imagem por causa de questões sanitárias.

O bispo de Angra terminou a Missa desejando a todos, “nomeadamente aos mais excluídos e pobres, às vitimas desta pandemia e aos que estão na diáspora”, um santo e feliz natal, pedindo uma bênção especial para as “famílias, os jovens e os idosos, as crianças e todos os que buscam o sentido para a sua existência, e nos acompanhe nos caminhos que levam à evangelização do mundo de hoje”.

 

 

Scroll to Top