Reitor do Seminário abriu as jornadas com a apresentação do terceiro número da revista cientifica do Seminário Fórum Teológico XXI
As IV Jornadas de Teologia sobre o Ateísmo e a fé, promovidas pelo Seminário Episcopal de Angra, nos próximos três dias, desenvolvem-se pela primeira vez em ambiente digital e na primeira noite problematizou-se o lugar da Teologia e o seu papel no espaço de fronteira entre a fé e o ateísmo, sobretudo numa sociedade marcada pela indiferença a Deus.
Juan Ambrósio, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, foi o primeiro orador convidado destas jornadas com uma conferência intitulada “O ensino da teologia- Na fronteira do diálogo entre linguagens”.
O teólogo destacou que o grande desafio da Teologia hoje passa pela capacidade de ser e propor um “exercício permanente de diálogo entre vários saberes” e vários mundos.
“A teologia transporta de um lado para o outro; é um exercício de mediação entre mundos” e, por isso, “é uma realidade plural, com várias disciplinas, várias escolas, e várias áreas (…) uma espécie de interface, de onde convergem e para onde partem, cruzando-se a Igreja, a Sociedade e a Universidade”.
Ao mesmo tempo, refere, é para a Igreja “uma palavra de tradução do mistério junto das comunidades crentes”, para que o possam viver de outra maneira e, por outro lado, uma ajuda à Igreja para que possa perceber o que é chamada a fazer ao ser enviada”.
Por isso, ao ajudar a problematizar a Igreja, a Teologia, diz Juan Ambrósio, deve, cada vez mais, propor “caminhos distintos” que levem o homem a descobrir e a compreender o mistério de Deus por forma a consegui-lo transmitir aos outros, não numa perspetiva da transmissão de um saber único mas abrindo caminho ao diálogo com outros saberes, comunicando a única verdade da fé que é Deus.
“A Teologia nunca deixou de ser nem poderá deixar de ser o auditus fidei e o intellectus fidei” afirmou elegendo como principal desafio da Universidade, no ensino da Teologia, sobretudo aos futuros padres, “ensinar e aprender a Teologia num exercício de hermenêutica de fronteira”, em que “o exercício de compreensão e de procura de sentido seja o centro de acção”.
“Estávamos habituados a uma Teologia muito cheia de si, que só tinha coisas a ensinar , mas hoje tem muito para aprender para dizer melhor Deus”, sobretudo num espaço e num ambiente mais do que secularizado indiferente a Deus.
Este ambiente é para Juan Ambrósio, “uma oportunidade” para que a Teologia “se reconfigure e reconstitua”
“Ao deixar de estar debaixo dos holofotes, talvez possa perceber que não é o centro mas que está ao serviço do Centro” que é Deus.
Na sessão de abertura das Jornadas, D. João lavrador centrou a sua atenção justamente neste ponto de um certo “indiferentismo” em relação a Deus e ao seu mistério, como um dos grandes males da sociedade pós moderna, sublinhando que a Teologia deve insistir em ser uma ajuda para desafiar “permanentemente” o homem a colocar a questão de Deus no seu quotidiano.
“Já não estamos perante a recusa de tudo o que não pode ser racionalizado, mas com a indiferença perante tudo o que não seja a satisfação individual imediata. Já não estamos perante um grupo de pessoas que se julgam as possuidoras das luzes da razão e, como tal, detentoras do poder de guiar as outras, mas perante uma indiferença generalizada a tudo aquilo que não seja do domínio do sensível” afirmou D. João Lavrador.
“A Pós-modernidade exige um novo discurso sobre Deus” afirmou o bispo de Angra ao lembrar que “reconhecer a Sua existência” não “compromete nem se opõe à dignidade do homem”.
“A Igreja (e a Teologia) não pode ter medo das questões que podem desembocar num ateísmo mais teórico ou prático, da pessoa que se situou pela sua forma de vida já não se inquietando com as perguntas…A teologia deve colocar-se num desafio para que o ser humano não desista de colocar as perguntas” afirmou D. João Lavrador ao destacar uma característica essencial do homem que é a sua continua necessidade de busca da verdade.
“É um peregrino em busca da verdade, da plenitude, da origem, do sentido, e como tal do Transcendente. Deus não poderia deixar a ninguém no silêncio absoluto, porque a pergunta sobre Deus está intrinsecamente unida à pergunta por si próprio e, como tal, ninguém se deixa de questionar sobre «quem sou?», «porque existo?», «qual o sentido do futuro?», «o porquê da minha existência?», «o sentido da felicidade?». Esta é uma maneira indirecta de o homem se perguntar por Deus”, afirmou frisando que “O homem é caminho para Deus” e o “Cristianismo acrescenta que Deus é caminho para o homem”.
Já o Reitor, padre Hélder Miranda Alexandre, ao usar da palavra lembrou que no quotidiano persistem “tensões e silêncios” que nos remetem para os limites da reflexão sobre a condição humana.
“Estas jornadas pretendem transportar-nos para o diálogo verdadeiro e autêntico que é necessário para uma reflexão que nos permita soletrar a existência de Deus a partir de uma fé fortalecida”, afirmou.
O reitor apresentou ainda o III Volume da revista Forum Teológico XXI, desenvolvida pelo Seminário Episcopal de Angra, já à venda nas livrarias da diocese, que compulsa as intervenções das III Jornadas de Teologia, numa homenagem ao antigo professor do Seminário Monsenhor José Nunes, falecido justamente no primeiro dia das Jornadas em 2019.
As IV Jornadas de Teologia do Seminário de Angra têm como tema ‘O Átrio dos gentios – Ateísmo e fé: diálogo e procura’.
Esta noite, às 20h00, o padre António Vaz Pinto falará sobre “Ateísmo e fé: perspetivas” e, amanhã, sexta-feira, Carlos Fiolhais sobre “Fé e ciência: a perspetiva de um físico”.
(Fotografia André Furtado)