Por Renato Moura
Principalmente quem já não é novo fica estupefacto perante atitudes difíceis de compreender e sobretudo de aceitar: parece claro estar-se perante inversão de valores.
Quem tenha coragem de invectivar essas atitudes, sobretudo perante jovens, sujeita-se às reacções: de surpresa ou incompreensão, de revolta ou agressão, se não física, pelo menos verbal. Argumentos: mudanças sociais, flexibilização de valores.
Há evoluções tornadas naturais. Quase ninguém estranha que os filhos tratem os pais por tu, em irmandade familiar, e não vêm daí as faltas de respeito. Era obviamente inaceitável o ambiente de falta de liberdade, terror e pancadaria infligido por alguns pais. Lastimável, todavia, haver pais que não podem ordenar, decidir nada, ou sequer aconselhar; e já não é nova a luta, contínua e feroz, lamentável e destruidora, de filhos contra pais. Há sacerdotes ainda a exigir o título de «Senhor» Padre! Absoluta inversão de valores que alguns abusem de crianças.
Foram humanamente péssimos os mestres que se faziam temer com reguadas e bofetões. Pobres são hoje os professores obrigados a ter medo de alguns alunos; e dos respectivos pais que aprovam erros dos descendentes. Admiráveis os professores capazes de ensinar e educar; deplorável saber que alguns se aproveitam das alunas, ou perdem o respeito deixando-se comprar.
Que futuro para os humanos perante a apelidada «evolução» que progressivamente substitui os homens por máquinas; e que presente para os humanos obrigados a falar para máquinas? Será que ao valor do respeito pela diferença, é aceitável contrapor a ditadura do pensamento único? Como se esperaria fácil fazer conviver a honra do valor da vida, com o direito à morte, seja antes de começar ou no fim? Como se passou da empatia de “o cliente tem sempre razão”, para a falta de humildade do “não reclame, pois veio aqui porque quis?
Não há honestidade, nem sentido de justiça, nem ética, quando os interesses económicos e ou políticos põem em causa o direito, ou ludibriam o cidadão. Quem se gaba de sofismar a lei, para fugir aos impostos, é desonesto.
Inversão de valores é considerar que contribui para a instabilidade quem avalia a justiça e a injustiça.
Quem não distinguiu entre agressores e agredidos inverte valores; essa liberdade não devia dar-lhe pedestal em dia de honra nacional.
Os valores também são construções da história e da cultura. Quando se defende que nada é definitivo, também se tem de aceitar como valor o direito à indignação, só que não exclusivo de novos, nem de velhos.