Internet deve ser campo de «pastoral»

«As intrigantes linguagens da fé» estão em reflexão na 5ª Jornada de Teologia Prática

O padre Marcelino Paulo Ferreira, da Diocese de Braga disse hoje que a Igreja deveria fazer da Internet a “pastoral da gestação” e que as redes sociais são atualmente “a transposição laica” da rede dos primeiros apóstolos.

“A pastoral da gestação implica fazer vida, entrar em relação de reciprocidade, ajudarmo-nos, nascer juntos para uma nova identidade”, afirmou o sacerdote na conferência «As Linguagens e os seus lugares: as homilias, o blogue, o quotidiano», integrada na 5ª Jornada de Teologia Prática da Universidade Católica, que decorre em Lisboa.

A primeira atitude, segundo o sacerdote, para um cristão estar na Internet é a “escuta” e só depois “a partilha”.

“Hoje já não se trata de perceber se é ou não importante estar na Internet: estou neste espaço tal como estou em minha casa ou em diversos locais” assume enquanto desafio de “ser cristão”.

A conferência contou ainda com a participação do padre Nélio Pita, pároco em São Tomás de Aquino, em Lisboa, para quem o desafio de um pregador é a beleza, numa altura em que a palavra “perdeu o carater performativo de outrora”.

“Dizer o bem de forma bela é um dos desafios de um pregador porque o belo é a linguagem dos crentes e dos não crentes”.

A professora Teresa de Vasconcelos, do Movimento GRAAL, leu excertos dos seus diários, onde através da escrita, cultiva “o viver crente”.

Para trás ficam as intervenções do  Superior provincial dos Jesuítas, o padre José Frazão Correia, que apontou, por seu lado, a necessidade “cultural” de resgatar o “mundo visível e invisível” na prática cristã.

“Caímos facilmente na tentação de achar que quanto mais nos afastamos do mundo mais espirituais somos. Mas desde o início do cristianismo afirmamos que Jesus Cristo é verdadeiramente homem. O corpo tem formas sensíveis e é um lugar da graça”, afirmou o sacerdote na V Jornada de Teologia Prática, uma organização da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, com o tema «As intrigantes linguagens da fé».

O sacerdote apontou o risco de, na prática sacramental, se cair num ritualismo “que esvazia os gestos”, naquilo que chamou de “liturgia híper-formalista, com regra e esquadro, impecável”, mas onde “falta alguma coisa”: “Dispensamos o corpo na liturgia, fica-nos a palavra, mas estamos fartos da palavra”.

“Acredito que se os gestos fossem bem feitos não haveria necessidade de os explicar. Uma criança não precisa de explicação quando o pai lhe dá um beijo”, disse o jesuíta.

“A Eucaristia é próxima da vida para nos recordar que tem algo a ver com as refeições de casa, mas ao mesmo tempo não é apenas uma repetição das refeições em casa. Há gestos próximos e diferentes. Suficientemente próxima, suficientemente diferente”.

«A pele do crer: para uma fé sensível» foi a conferência que juntou o superior provincial dos jesuítas à professora de Teologia, Irmã Luísa Almendra, que aludiu ao texto do Cântico dos Cânticos como um exemplo de que “como o divino se manifesta no amor humano”.

Lançadas em 2009, as Jornadas de Teologia Prática são um projeto da Faculdade de Teologia e do Instituto de Ciências Religiosas da UCP, em parceria com o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

 

A edição deste ano conta com oradores das mais variadas áreas, como a escritora Alice Vieira, o jornalista Francisco Sarsfield Cabral e a atriz Maria do Céu Guerra.

 

CR/Ecclesia

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