Inquérito às famílias abre espaço a uma nova «gramática» na relação entre a hierarquia católica e os fiéis

Tema esteve em destaque num colóquio do Centro de Reflexão Cristã.

O investigador Alfredo Teixeira, da Universidade Católica Portuguesa, considera que o inquérito feito às famílias, no âmbito da preparação do próximo Sínodo dos Bispos, reforça a postura próxima e inclusiva que tem caraterizado o pontificado do Papa Francisco.

 

“O que esta auscultação revelou é que as estruturas locais, as Igrejas locais, se calhar não estão preparadas para responderem a este tipo de relação com os católicos”, sustenta Alfredo Teixeira, em declarações à Agência ECCLESIA.

 

O docente entende ser necessário saber se a novidade que o questionário encerrou, de chamar à construção da vida da Igreja Católica, do caminho sinodal, as comunidades locais de base, “mesmo aquelas que estão nas periferias”, terá efeitos práticos em toda a “estrutura” eclesial.

 

A temática esteve em debate esta quarta-feira num colóquio promovido pelo Centro de Reflexão Cristã, em Lisboa, intitulado ‘O Papa Francisco e o inquérito sobre a família’.

 

Além do atual coordenador executivo do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da UCP, a iniciativa contou também com a presença da pintora Emília Nadal.

 

As respostas ao inquérito que o Vaticano promoveu em novembro, com várias questões sobre ‘Os desafios pastorais da família, no contexto da evangelização’, estão agora a ser agora recolhidas e analisadas pelas diversas conferências episcopais.

 

O resultado final vai ser depois alvo de reflexão no Vaticano, durante o Sínodo dos Bispos dedicado à Família, que terá duas etapas: uma assembleia extraordinária, entre 5 e 19 de outubro, destinada a avaliar “o estado da questão”; uma assembleia ordinária, em 2015, cujo objetivo será definir linhas de ação para a pastoral da pessoa e da família.

 

Para Alfredo Teixeira, a dúvida que sobressai do inquérito é se ele representa de facto uma nova “gramática” na relação entre a hierarquia católica e os fiéis.

 

Só quando matérias como a situação dos recasados, dos divorciados, das uniões entre pessoas do mesmo sexo, incluídas na auscultação às famílias, forem alvo de reflexão no “próprio habitat institucional católico”, das dioceses, das paróquias, é que se deixará de ter “um pontificado com um estilo novo” para “uma Igreja com um estilo novo”, salientou o investigador.

 

Um estilo novo que, acrescentou, vai também ao encontro dos anseios das pessoas, já que houve uma “grande adesão” das comunidades à iniciativa do Papa, “porque sentiram que quem pergunta quer ouvir, coisa que em outras circunstâncias nem sempre aconteceu”.

 

A pintora Emília Nadal destacou o facto de o inquérito ter sido concebido para “conhecer e avaliar” as opiniões das pessoas “em vez de doutrinar” e encontrou uma linha comum entre a atual conjuntura da Igreja Católica e outra época de mudança, o Concílio Vaticano II (1962-1965).

 

“A coragem renovadora do Papa Francisco corresponde atualmente à coragem do Papa João XXIII quando decidiu convocar um concílio ecuménico para conhecer a realidade do mundo contemporâneo e a ele adequar a missão da Igreja”, apontou.

 

Olhando para o futuro, a artista plástica católica espera que os resultados práticos do inquérito, e o próprio Sínodo dos Bispos, contribuam sobretudo para que “a Pastoral da Família deixe de ser uma alínea da Igreja mas o fulcro da própria Igreja”.

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