Por Renato Moura
Em documento elaborado para a Diocese, no dia 03.09.21, afirmei: “Sempre fui – e continuo a ser – de opinião que há tarefas ao nível da administração e direcção de instituições que podem ser mais bem desempenhadas por leigos, do que por sacerdotes. (…) A realidade é que, seja ao nível da administração ou direcção de instituições, a hierarquia da Igreja, salva raras e honrosas excepções, não abre mão do poder, seja por via directa ou indirecta, o que leva à desmotivação ou afastamento de leigos diligentes e competentes”.
Em Junho de 2019, em documento enviado à Ouvidoria das Flores, sobre uma IPSS com creche e jardim de infância, referi: “Os Estatutos estão eivados de obrigações, pedidos e obtenções de licenças e autorizações, aprovações e decisões por parte do Ordinário do lugar, do Bispo, da Autoridade Eclesiástica, que até exigem licença do Ordinário do lugar para celebrar acordos de cooperação com serviços oficiais, donde provêm aliás os recursos que permitem o funcionamento da Instituição”. E comprovei, com base nos Estatutos, “que o Presidente da Direcção que não seja Pároco, fica submetido à coordenação geral, bem como a todas as vigilâncias, nomeadamente sobre a boa administração dos bens do Centro; significa que por ser leigo não merece confiança, que para além da fiscalização normal do Conselho Fiscal e das coordenações, orientações, vigilâncias e administrações do Bispo Diocesano, também é «chefiado» pelo Pároco”. Não restava outra atitude, a não ser a de recusa dum convite para uma presidência assim.
Felizmente há padres a pensar e alguns a agir de forma diferente. Aludi, no Igreja Açores, em início de Agosto de 2018, a uma riquíssima homilia de ordenação, na qual um padre dava conselhos a um jovem ordenado, por mim tidos por cruciais, e como então escrevi, foram: “os de não dar prioridade à coordenação, à governança, à contabilização, à ocupação de postos de liderança, dos quais, como se sabe a prática presbiteral ainda muito se ocupa, em prejuízo de outros mais próprios da missão insubstituível”.
O Papa Francisco porfia e persiste na rejeição da sede de poder. No passado dia 16, expressou: “O nosso desejo de poder exprime-se de muitas maneiras na vida da Igreja, por exemplo, quando julgamos, em virtude do nosso papel, que temos de tomar decisões sobre todos os aspetos da vida da nossa associação, da diocese, da paróquia, da congregação. Delegamos aos outros tarefas e responsabilidades para certas áreas, mas apenas na teoria”. Claramente! À atenção de bispos e padres.