Por Renato Moura
Nem precisa ser velho para recordar como há anos os bancos portugueses remuneravam com bons juros os depósitos a prazo. A taxa de juro dos depósitos na zona Euro andará pelos 2,11%. Deveria ser esse o referencial para a banca portuguesa; mas na zona Euro Portugal tem a segunda taxa mais baixa! Os bancos em Portugal estarão com elevada liquidez, não precisarão de fundos e obtêm lucros enormes. Durante as crises bancárias recorrem às ajudas de Estado (à nossa custa); fora disso recusam exemplos da Europa! Podem agora dar-se ao luxo de ignorar os portugueses, cada vez em maior número com a corda na garganta, nomeadamente com a subida de juros dos empréstimos, incluindo os de crédito à habitação, e o galopante aumento do custo de vida.
A Caixa Geral de Depósitos outrora até atribuía juros aos depósitos à ordem. Hoje, só a guardar o nosso dinheiro de uso corrente, numa conta à ordem, cobra taxas! A CGD é um banco público, mas tem objectivos comerciais semelhantes aos demais!
Faz-se crer redução da inflacção. Apregoam-se prespectivas de crescimento para os próximos anos, tendo o olho no crescimento das exportações e do turismo. Os números da economia não se sentem no bolso dos portugueses, com preços a subir e impostos sobre os rendimentos sem descer. Há cada vez mais cidadãos aflitos, à espera de subsídios pontuais! As meras declarações de alguns políticos podem gerar esperança no futuro?!
Em Portugal a poupança está em níveis muito baixos. A situação é muito preocupante: nas situações de crise percebe-se como a esmagadora maioria das pessoas não tem uma poupança da qual se possam socorrer.
A Agência de Gestão de Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) tinha no mercado um produto de aplicação de poupança, vendido directamente ou nos CTT, com remuneração muitíssimo superior à de depósitos bancários. À taxa base somavam-se prémios de permanência. Tratava-se dos Certificado de Aforro série E, com taxa de juro que atingira os 3,5%: um investimento sem risco, muito atractivo, o qual estava a gerar muita procura por parte dos pequenos aforradores.
O Governo acabou com a série E e a nova série F é muito menos favorável, todavia melhor que a aplicação em vulgares depósitos bancários a prazo.
A imagem que passa é de desincentivar a pequena poupança: e é errada. A política pretendida é de gerar crescimento através do aumento do consumo?! E ainda mais lucro para os bancos ao poderem agora comercializar certificados de aforro?!
Marcelo implorou à banca um «esforçozinho» em juros; dá para rir.