É um dos mais antigos impérios do Espírito Santo da ilha terceira e, porventura, um dos maiores e mais festivos
A festa já leva mais de uma semana mas é neste domingo que se celebra uma das vertentes mais importantes do Império de São Carlos: a Missa e a Coroação, seguida da procissão das coroas.
Este Império remonta ao tempo da crise vulcânica da serra de Santa Bárbara, em 1761 e foi fundado no dia 21 de setembro, que a Igreja hoje celebra como a Festa de São Mateus.
No curato de São Carlos, na ilha Terceira, hoje é por isso dia de coroação e a festa regressa ao formato habitual depois de dois anos de suspensão devido à pandemia.
A comemoração começou no passado domingo com a mudança da coroa da casa da procuradora para o Império, rezando-se todos os dias o terço. Este domingo será celebrada a Eucaristia seguida da procissão com todas as coroas do Império.
Além da meditação diária do terço e de todo o programa religioso, as festas de São Carlos têm um programa sócio-recreativo, que passa por barraquinhas, cantadores tradicionais e touradas.
A Irmandade do Divino Espírito Santo do lugar de S. Carlos constituiu-se na sequência de uma crise vulcânica, que embora tenha poupado as pessoas, soterrou 27 casas de moradia e cobriu grandes extensões de vinhas e pomares. A lava corria devagar, tão devagar que se conta até o caso de pessoas que andando na procissão acendiam as tochas que por vezes se apagavam. O vulcão `vomitou´ lava por oito dias consecutivos, lançando também chuveiros de areia e cinza por toda a ilha.
Em São Carlos o povo saiu à rua implorando a misericórdia Divina, levantando um estrado de madeira junto à ermida de S. Carlos Borromeu, onde depositou uma coroa do Espírito Santo. A vigília foi constante e o fumo manteve-se três semanas sem ultrapassar os limites do estrado, desaparecendo por completo a 21 de Setembro, dia em que a Igreja venerava o Evangelista S. Mateus. Em ação de graças pelo desaparecimento da estranha fumarada, iniciaram-se os festejos em louvor do Divino Espírito Santo.
Diz, ainda o Portal da Irmandade, que o povo não esqueceu o milagre atribuído ao Espírito Santo e presta-lhe a homenagem devida, anualmente, no último domingo de Setembro, com a coroação do Imperador e distribuição do Bodo.
Nos primeiros anos, a coroação decorria na ermida de S. Carlos Borromeu e os festejos tinham lugar no caminho, junto à porta do pequeno templo. No lado contrário armava-se o “Teatro”, em madeira, onde o Imperador presidia à festa.
Só em 1814, surgiu a estrutura em alvenaria mas com uma configuração diferente da que tem hoje, seguindo o modelo vigente na época, que em tudo se assemelhava a um alpendre: estava implantado em plano elevado, não teria mais de quatro colunas e um teto, sendo completamente aberto na frente e nos lados, para que todos pudessem ver o que se passava no interior.
Na prática, era um “Teatro” onde se representava anualmente o Auto do Império, renovando a crença no reino do Espírito Santo, que promete a igualdade, a abundância e a paz universal.
Com o correr dos tempos, a estrutura foi melhorada, tapada nos lados e na frente, construiu-se um nicho no interior e deixou de ser um “Teatro” para parecer uma capela, onde ainda hoje se reza o terço e se deposita a Coroa.
A Irmandade de São Carlos é uma das mais antigas da ilha Terceira. No momento alto do Bodo, realiza-se a distribuição de uma “pensão”, composta por pão, carne e vinho, por todos os irmãos que, sendo predominantemente residentes neste lugar de Angra do Heroísmo, estão também espalhados por toda a ilha Terceira.
O Culto ao Divino Espírito Santo é uma das manifestações de religiosidade popular mais evidentes nos Açores. Assinala-se sempre na segunda feira de Pentecostes, data do feriado da Região Autónoma dos Açores.