Este sábado decorreu a mudança da Imagem desde a Igreja do Colégio até à Conceição. Domingo teve lugar a procissão
A habitual procissão do Senhor dos Passos, organizada pela Irmandade de Santa Cruz e Passos da Igreja do Colégio, saiu à rua da cidade património mundial, Angra do Heroísmo, este domingo, o segundo da Quaresma, percorrendo o perímetro que vai do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, onde pernoitou a imagem para veneração dos fieis até à Sé de Angra, pelo facto da igreja do Colégio estar ainda em obras.
A mudança da Imagem do Senhor dos Passos da Igreja, do Colégio para o Santuário de Nossa Senhora da Conceição, teve lugar no sábado. Esta mudança, tal como a procissão de domingo, foi animada pelo Seminário Episcopal de Angra.
No domingo a procissão percorreu as principais artérias do centro histórico de Angra e fez três paragens- uma para o Sermão do Encontro, na Praça Velha e duas outras para assinalar os passos na Rua do palácio e na Carreira dos Cavalos.
A primeira de três meditações feitas pelo Cónego Jacinto Bento, padre em São Pedro de Angra e cónego do Santo Sepulcro, decorreu na Praça Velha e assinalou a quarta estação, isto é o Encontro de Jesus com a sua Mãe.
“Foi um encontro sem palavras, onde falou o silêncio, onde falou o coração, onde falou a expressão, onde falou o olhar. Foi um encontro onde Maria contemplou o seu Filho curvado sob o peso da Cruz, corpo chagado, cabeça coroada de espinhos e o rosto ensanguentado. Maria encontrou o Seu Filho em agonia” lembrou o pregador que depois estabeleceu um paralelo com os tempos modernos.
O sacerdote sublinhou que Cristo continua em agonia, ” nas ruas e nas praças do mundo, nas ruas e nas praças do nosso país, nas ruas e nas praças da na nossa região, nas ruas e nas praças da nossa cidade, nos famintos alimentados pela caridade pública ou por instituições, nos doentes dos hospitais e nos idosos dos lares, muitas vezes abandonados pelos familiares , nas vítimas de violência doméstica, que não são assistidas. nas vítimas da toxicodependência, nas vítimas inocentes do terror, em sinagogas, igrejas e mesquitas, em várias partes do mundo”.
Já num segundo momento, que correspondeu à segunda meditação- Jesus encontra as mulheres de Jerusalém- onde aproveitou a oportunidade para sublinhar a importância das mulheres na Bíblia.
“As mulheres não estão ausentes do Evangelho, é um cortejo feminino, que, tal como os discípulos, seguiram Jesus para o escutar e servir, inclusive com os seus bens” afirmou o Cónego Jacinto Bento.
Lembrou que, na História da Igreja, encontramos em todos os século monjas e religiosas, mulheres solteiras e casadas, todas discípulas, que seguem Jesus e o servem com os seus bens, a sua inteligência, e o dom inestimável da sua feminilidade: Santa Teresa de Ávila, Santa Catarina de Sena, Santa Teresinha de Lisieux, Edite Stein, Madre Teresa de Calcutá, entre muitas outras e depois interpelou: “Se tirássemos as mulheres das assembleias dominicais, quantos fiéis ficariam? Se tirássemos as mulheres das equipas de ornamentação e limpeza das nossas igrejas, como é que elas andariam? Se tirássemos as mulheres dos grupos corais, quantos cantores ficariam? Se tirássemos as mulheres da catequese, quantos catequistas ficariam? Quantos? Quantos? Como seriam as famílias, sem as mães? Sem as avós? Como seriam?”.
Já no terceiro momento de reflexão, o sacerdote lembrou a crucifixão de Jesus, no cimo do Monte Calvário, de onde Jesus pediu perdão para os seus `carrascos´, para sublinhar temas como o pecado, o perdão, a misericórdia e a confiança.
“A cruz é o sinal da nossa fé. Devemos edificar a nossa fé sobre a Cruz e não tenhamos medo de a transportar. Devemos edificar a nossa civilização sobre a Cruz e com a Cruz e pela Cruz e não a tirando das escolas e espaços públicos. A Cruz tem grande relevância no Ocidente, porque foi sobre a Cruz, com a Cruz e pela Cruz, que se edificaram misericórdias e hospitais, e se reconheceu de forma ímpar a dignidade de cada ser humano” disse.
“Nós, os cristãos, temos de estar atentos a certos movimentos políticos e culturais e sociedades mais ou menos secretas que querem esconder a Cruz, das escolas, dos espaços públicos”, concluiu.
Embora encurtada, esta procissão continua a ser uma das mais importantes a sair em Angra.
“Antes assinalávamos todos os passos mas devido ao trajeto ser mais curto faremos apenas estas paragens” adiantou ao Igreja Açores o reitor da Igreja do Colégio, Cónego João Maria Mendes.
O sacerdote deixou ainda um apelo aos mais jovens de forma a que não deixem morrer esta e outras irmandades do género, comprometendo-se e participando ativamente na sua preservação.
As procissões de Passos são comuns nos Açores sendo particularmente relevantes nas paróquias e ouvidorias onde existem fraternidades franciscanas ainda ativas, como é o caso da Horta ou da Ribeira Grande, para além de Angra.
As procissões de Passos, que representam o flagelo infligido a Jesus, preso na Cruz, foram trazidas para os Açores pelos seus primeiros povoadores, vindos do continente, onde eram manifestações litúrgicas e populares de fé, entre o Século XIV e XVIII, em muitas das cidades e vilas.
Dos Açores foram levadas para o Brasil, onde, ainda hoje são das maiores manifestações religiosas em Florianópolis (Santa Catarina) e Olinda (Rio Grande do Sul).
A imagem do Senhor dos Passos, normalmente de tamanho natural, representa Jesus, sob o madeiro, numa das quedas a Caminho do Calvário, como que a prevenir as quedas da vida.
No decurso do giro da procissão dar-se-á o encontro da imagem do Filho com a Mãe, Nossa Senhora das Dores, onde os fiéis aguardam o designado Sermão do Encontro.