Novena aproxima-se do fim com um desafio a todos os cristãos a deixarem-se guiar e consolar pela palavra de Deus
A pouco mais de 48 horas do inicio da grande festa do Senhor Bom Jesus Milagroso são inúmeros os peregrinos, sobretudo jovens, que se fazem à estrada em direção ao Santuário que, neste período da novena, tem permanecido aberto até à meia noite.
“Tem sido uma espécie de retiro espiritual que temos feito, com um guião assente na liturgia do dia, atendendo aos muitos peregrinos que têm participado no novenário” adiantou ao Sítio Igreja Açores o Pe. Jacob Vasconcelos que tem pregado a novena, que se iniciou no passado sábado.
“É muito gratificante ver como as pessoas peregrinam a este santuário, sobretudo os jovens” numa ilha tão envelhecida como é a do Pico “e isso é um bom sinal” precisou ainda o sacerdote que é o diretor do Serviço Diocesano da Evangelização, Catequese e Missão.
“A minha preocupação tem sido a de sugerir aos peregrinos que a novena é uma oportunidade de conversão, de escuta e de confronto com a palavra de Deus que nos deve guiar, julgar e consolar. Foram , aliás, estes três verbos que utilizei no primeiro sermão”, acrescentou ainda o jovem sacerdote florentino que atualmente é vigário paroquial na Ribeirinha, na ilha Terceira e secretário pessoal do bispo de Angra.
Nas homilias que tem proferido diariamente, e sempre a partir da liturgia da palavra, o Pe. Jacob Vasconcelos lembrou que todos os cristãos são interpelados a um verdadeiro encontro com Deus, que proporcione uma maior intimidade e proximidade com a sua proximidade, sempre cientes de que “Deus nunca desiste de nós”.
Numa conversa com o sítio Igreja Açores, em jeito de síntese sobre as pregações, o sacerdote sublinhou a importância dos cristãos estarem cientes da “constância do amor” e da “paciência” de Deus, apesar das circunstâncias da vida de cada um.
“Deus nunca desiste de nós, apesar do pecado, Deus nunca nos abandona e não perde tempo a remoer” lembrou o sacerdote sublinhando que a “lógica de Deus é sempre dar atenção a quem mais precisa”.
O Pe. Jacob Vasconcelos lembrou a necessidade dos cristãos se deixarem interpelar pela palavra de Deus seja através da sua escuta, interrogando-se se “lhe estão a dar o tempo e o lugar devidos”, seja através da sua adoção, isto é, “estaremos a imitar Deus na nossa relação com os outros?”.
“Como é que cada um de nós vive a palavra que escuta, como é que a levamos aos outros? São questões que devemos fazer a nós mesmos”, enfatiza o sacerdote que desafia os cristãos a deixarem de fazer “julgamentos”.
“Temos de ser capazes de não julgar os outros e engavetar as pessoas entre as boas e as más. Esse julgamento é sempre de Deus e temos de esperar por ele, cientes de que o Seu amor é sempre maior que tudo”, avançou ainda o sacerdote ao Igreja Açores.
“Isto é aproximar-nos de Deus”, disse “livrando-nos de outros ídolos”.
Nos dois dias que faltam para o fim da novena, e já com a presença do bispo de Viseu, que preside diariamente às celebrações até ao final da festa do Senhor Bom Jesus Milagroso, o jovem sacerdote irá ainda propor um itinerário que ajuda os cristãos a percorrer este caminho.
À semelhança do que fez nos últimos dias através da invocação de alguns protagonistas do Evangelho, como Moisés, ou das parábolas como a do trigo e do joio, por exemplo, para ilustrar a sua pregação, o jovem sacerdote vai também apresentar Maria como o modelo que os cristãos devem seguir seja no caminho de aproximação a Deus seja na missão de levar Deus aos outros.
“A imagem da Senhora da Compaixão é a única imagem de Nossa Senhora que acompanha o Senhor Bom Jesus na procissão”, lembra o sacerdote. “Por isso, irei sugerir algumas práticas de oração- “E Maria é mestra”- porque ela é essencial para nos encontrarmos com Deus e podemos fazê-la em vários momentos do nosso dia, evitando ritualismos excessivos”, refere.
“Julgo que o tripé é este: gratidão, perdão e compromisso. É o tripé da oração. É o tripé da vida de qualquer cristão” afirmou em jeito de conclusão.
‘Ai de mim se não evangelizar’ é mote para as celebrações no santuário diocesano em São Mateus: a “festa principal”, a 6 de agosto, vai ser presidida por D. António Luciano, bispo da Diocese de Viseu que foi nomeado a 3 de maio de 2018.
O Senhor Bom Jesus Milagroso “é uma das mais emblemáticas” manifestações religiosas da Diocese de Angra e do Arquipélago dos Açores que conta com a participação de “milhares de forasteiros, sobretudo das ilhas vizinhas e também da diáspora”, entre 27 de julho até 7 de agosto.
A festa remonta a 1862, quando o emigrante Francisco Ferreira Goulart trouxe do Brasil uma imagem do Senhor Bom Jesus, cópia fiel das que se veneram”, mas a devoção que já existia era ao Senhor Crucificado”.