Publicação cientifica do Seminário Episcopal de Angra reúne textos e estudos desenvolvidos no âmbito das últimas Jornadas de Teologia, com o tema “Arte, expressão que transcende”
Ao longo de mais de 200 páginas, o terceiro volume da revista Fórum Teológico XXI, editada pelo Seminário Episcopal de Angra, este ano, reúne vários textos que refletem sobre a “Arte, expressão que transcende”, tema que animou as III Jornadas de Teologia dos Açores no ano passado.
A revista deveria ter sido publicada no âmbito das quartas jornadas de Teologia, que se realizariam em março deste ano, e que foram canceladas devido à pandemia da Covid-19.
A publicação, que chega agora às bancas, está à venda nas livrarias da Diocese, em Ponta Delgada e Angra do Heroísmo, começa com o editorial do Reitor que nos deixa o itinerário deste trabalho, dividido em duas partes distintas. A primeira reúne as conferências dos intervenientes nas jornadas e na segunda, trabalhos de investigação desenvolvidos por professores e convidados da instituição.
Este número começa com uma explicação da exposição criada no âmbito das Jornadas por Marta Bretão, professora de Arqueologia e Arte no Seminário, e prossegue com a intervenção do bispo de Angra, D. João Lavrador, sobre o tema “Arte e Teologia”. O prelado diocesano reflete, desta feita, sobre a Teologia e a arte em diálogo, a partir de três documentos essenciais da Igreja: as Constituições Conciliares Sacrosanctum Concilium e Gaudium et Spes e a mensagem do Papa João Paulo II aos Artistas, realçando, que arte se torna autêntica se apontar para o Transcendente. Apesar da relação entre a arte, a criação e a presença de Deus nas obras criadas, ao longo da história, nem sempre foi possível estabelecer esta relação. E conclui que a arte, quando é autêntica, é sempre reveladora do Mistério.
A revista prossegue com um texto do padre Joaquim Félix de Carvalho, professor e investigador de Liturgia na Faculdade de Teologia da Universidade Católica, com o tema “Via sapiencial das artes na liturgia: desafios contemporâneos”. No sumário propõe refletir sobre artes que interagem na espacialidade e na ação litúrgicas. A consideração da liturgia como ‘jogo’, na visão de Romano Guardini, é o ponto de partida. Assim, desde a sua hermenêutica, mas transcendendo o seu texto, propõe-se que as artes litúrgicas sejam valorizadas como expressão sacramental.
O Padre Cipriano Franco Pacheco, Professor de Filosofia no Seminário, é outro dos nomes presentes nesta edição com o tema “Estética e Mística em São Tomás de Aquino”. O autor explora a Via do pulchrum ou do belo, pela sua ligação ao sentimento de prazer ou de gozo. Afirma que ela se revela não só capaz de atração, mas também de contemplação, apontando, assim, para duas dimensões muito presentes no pensamento de S. Tomás, a saber, a estética e a mística, áreas vulgarmente menos abordadas em relação ao pensamento de Tomás de Aquino.
O padre Alexandre Palma, Professor e Investigador na Faculdade de Teologia da Universidade Católica, apresenta o tema “Estética e Teologia. Contexto, fundamentos e desafios”, no qual desafia o leitor a repensar a referida relação. No presente artigo, exploram-se alguns tópicos fundamentais da relação entre teologia e estética, expondo-se a proposta de uma estética teológica e ponderam-se alguns desafios da integração da estética na vida e ação eclesiais .
Finalmente, Sandra Costa Saldanha, diretora do Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, partilha com o leitor os desafios de comunicação e envolvimento das comunidades em relação ao Património eclesial. Desenvolve a ponderação de novos caminhos, no processo de comunicação, partilha e usufruto dos Bens Culturais da Igreja, mas também a sua efetiva colocação ao serviço das comunidades e da missão que lhe está confiada.
Na segunda parte desta edição, a revista apresenta dois estudos distintos. O Padre Teodoro Medeiros, doutorando em Teologia Bíblica na Pontifícia Universidade Urbaniana, em Roma, guia-nos até ao mundo especializado da exegese bíblica, através do método da leitura narrativa, com o tema: “Um terreno exegético por explorar: a abordagem linguística de Alain Rabatel à categoria de ponto de vista”, parte integrante dos seus estudos mais recentes. Procura mostrar a inadequação do modelo genettiano para fazer face à complexidade das obras narrativas. O artigo expõe o essencial da dissensão rabateliana com esse modelo e a sua proposta teórica.
Finalmente, destaque para o contributo do canonista, Cónego João Maria Mendes, chanceler da Cúria, através do estudo “90.º aniversário dos Pactos Lateranenses e da criação do Estado da Cidade do Vaticano”. Desenvolve esta temática específica do direito público internacional, fazendo memória do dia 11 de Fevereiro de 2019 em que se completaram os 90 anos da assinatura do Tratado de Latrão entre o Reino de Itália e a Santa Sé que, entre vários acordos, deu origem ao novo Estado da Cidade do Vaticano.
A última parte da revista remete para a vida do Seminário, com uma especial referência, em jeito de homenagem, ao testemunho e legado que foi a vida de Monsenhor José Nunes, professor emérito do Seminário que faleceu precisamente na véspera das jornadas do ano passado.
“A sua enorme dedicação ao ensino da Teologia, detalhadamente preparado e serenamente transmitido, deixa-nos um legado de grata memória. A solidez da sua doutrina, bem como a fidelidade ao Magistério, caraterizavam a sua formação e personalidade. Repetia constantemente que “a Teologia se estuda de joelhos”, refere o Reitor, padre Hélder Miranda Alexandre no editorial.