Sacerdotes das ilhas de Santa Maria e das Flores não facilitam e garantem que o importante é preservar a saúde de todos
As ilhas de Santa Maria e das Flores, tal como a do Corvo, não registaram qualquer caso positivo de Covid-19 neste tempo de confinamento mas a igreja local segue escrupulosamente as regras determinadas pelas autoridades eclesiásticas e de saúde em nome do bem comum.
Desde que foram suspensas as celebrações comunitárias com a presença de fieis que as igrejas deixaram de contar com pessoas nas missas e agora que regressaram as celebrações participadas foram adoptadas todas as regras de higienização e distanciamento social definidos, incluindo o uso da máscara, mas as pessoas continuam a faltar à chamada.
“Temos de fazer uma grande reflexão, não só em Santa Maria mas um pouco por todo o arquipélago” adianta ao Igreja Açores o padre Miguel Tavares. O sacerdote, que serve em Santa Maria, adianta que a prática dominical diminuiu substancialmente, “cerca de 40%”. Se antes da pandemia cerca de 650 fiéis, num total de cinco mil habitantes, participavam na Eucaristia, hoje, dois fins de semana volvidos de desconfinamento, passou-se para os 250.
“Esta quebra da prática dominical é transversal e isto faz com que tenhamos que fazer uma reflexão muito profunda porque neste período de desconfinamento depois vemos que as pessoas estão noutros sítios”, esclarece ainda.
Para o sacerdote assiste-se a uma certa desmobilização- “de movimentos e das famílias”- que tem de ser “estudada”. Por exemplo na catequese, que está suspensa presencialmente, “houve iniciativas muito interessantes a partir da Catequese em nossa casa que mobilizaram os grupos nas redes sociais com discussão de temas”, mas noutras realidades isso não foi possível.
Por causa do coronavírus, foi cancelado o Império de Pentecostes organizado pela ouvidoria e que iria envolver a participação de todas as irmandades da ilha. Dessa organização apenas se registou a coroação dentro da Missa, no domingo passando coroando-se a pessoa mais velha e mais nova presentes na Eucaristia, na paróquia da Almagreira.
“Foi pena; havemos de realizar para o ano”, diz o padre Miguel Tavares.
“O primeiro desafio que nos fica deste período, em termos de Igreja, é encontrar a forma de fazermos sentir a todos os cristãos a importância e o valor da Eucaristia e da participação na Eucaristia”, conclui.
Também nas Flores houve um decréscimo, embora não tão acentuado. O principal desafio nesta parte do arquipélago é fazer sentir às pessoas que apesar de não ter existido qualquer caso positivo diagnosticado, ninguém está a salvo e por isso é preciso adoptar medidas.
“Queremos que as pessoas sintam que dentro da Igreja podem celebrar a sua fé em comunidade de forma segura e por isso tivemos de adotar esta regras” disse, por seu lado ao Igreja Açores o ouvidor das Flores, padre Eurico Caetano. O uso da máscara, “pode ser um incómodo e sabemos que é” mas as pessoas “percebem que estão a fazer esse sacrifício em nome de um bem maior”, esclarece ao sublinhar que neste tempo de desconfinamento é preciso ter ainda mais atenção.
A mobilidade vai aumentar, as pessoas vão circular mais e, naturalmente, os riscos podem ser acrescidos. O importante é que “não descuremos as regras que estão determinadas pela autoridade de saúde” adianta ainda o sacerdote que é o responsável pela coordenação do trabalho dos diferentes sacerdotes e diácono na ilha que tem 12 paróquias, a onde se mantém os horários da missas e o ritmo da vida da Igreja.
“Nas paróquias mais pequenas e rurais não houve uma quebra visível de participação mas nas maiores terá havido pois as pessoas ainda estão retraídas”, avança. Talvez por isso, todas as decisões em relação ao ritmo celebrativo de verão estejam ainda por definir. Se as festas civis e camarárias estão já todas canceladas, na verdade as festas paroquiais mantém-se embora ainda sem um modelo comemorativo definido.
“Iremos manter a parte celebrativa dentro da Igreja mas sem as procissões e arraiais, pelo menos para já” avançou frisando, no entanto, que as decisões têm de ser tomadas mais em cima das datas.
“Nós temos festas entre o primeiro fim de semana de julho e o primeiro de outubro. Com este intervalo de tempo julgo ser prematuro estar a dizer de forma absoluta que vamos fazer isto ou aquilo; o melhor é irmos decidindo em função das circunstâncias mas sempre no respeito absoluto pelas recomendações das autoridades de saúde”, disse ainda ao ressalvar que esta “leitura dos sinais dos tempos” é uma “marca da nossa fé”.
Em Santa Maria, no extremo oposto do arquipélago, as festas estão igualmente suspensas e fora da Igreja dificilmente haverá arraiais de verão. As paróquias de compõem a ouvidoria já sofreram um primeiro ajuste. As seis missas de fim de semana que eram celebradas entre o sábado e o domingo- uma no sábado e cinco no domingo- foram alteradas. Os dois extremos da ilha- Aeroporto (na Vila) e Santo Espírito- passaram a ter missas vespertinas ao sábado e São Pedro, Matriz de Vila do Porto, Almagreira e Santa Bárbara mantém as missas ao domingo, num ritmo alternado dos dois sacerdotes que servem a ilha.