Responsável da Santa Sé sublinha impacto das novas tecnologias nas relações familiares
O presidente do Conselho Pontifício das Comunicações Sociais (CPCS), organismo da Santa Sé, considera que a Igreja Católica tem de assumir o desafio de estar junto das famílias na sua ação educativa neste setor.
“Na Pastoral Familiar, há que ajudar os pais a assumir a tarefa de ajudar os filhos a estar presentes responsavelmente na internet”, disse D. Claudio Maria Celli, em declarações à Agência ECCLESIA.
Para o prelado, que acompanha a atividades dos media em todo o mundo, a Igreja é desafiada a estimular uma maior consciência dessa responsabilidade e contextualiza que os pais quando chegam a casa estão cansados e “têm mil coisas para fazer” não tendo muito tempo para “dedicar” aos filhos, “especialmente quando eles navegam na internet”.
“Não podemos ser ingénuos: temos de saber que para lá das riquezas, das possibilidades, há também aspetos negativos”, observa o presidente do CPCS, alertando que o problema de fundo “não é tecnológico” mas humano.
“Deveríamos procurar sempre que aquilo que os filhos vivem seja algo enriquecedor na sua humanidade, no seu crescimento. Hoje em dia, sem dúvida, as novas tecnologias permitem dimensões de conhecimento, relacionais, muito enriquecedoras”, desenvolveu D. Claudio Maria Celli.
O arcebispo italiano assinala que os novos meios de comunicação “enriquecem” com novas possibilidades que permitem “acrescentar vínculos de comunhão”, por exemplos com os avós que aprenderam a utilizar a internet para “falar com os netos”.
O responsável adverte também para a outra face da moeda que são as crianças que passam entre duas a cinco horas online em atividades lúdicas que “não lhe interessar com os outros, com os pais, com os irmãos”.
Por isso, o arcebispo pede “muita sabedoria”, que os pais se sintam “mais responsáveis” pela educação dos filhos e recorda a educação que recebeu dos pais: “‘Isto sim, isto não’. E quando era não, eu ia para a cama.”
Neste contexto, considera que a Igreja, na sua dimensão comunicativa, tem a tarefa de “dizer a verdade sobre o homem”.
“Há momentos em que é preciso defender o homem, nas suas dimensões mais ricas, mais profundas, mais verdadeiras, porque às vezes a sociedade de hoje é mais levada a destruir o homem”, acrescentou.
O presidente do CPCS recordou também que o Papa Francisco, no primeiro encontro com os jornalistas, disse que deviam ser sempre “fiéis” à “verdade”, à “bondade” e à “beleza” e reconheceu que há uma atenção “profunda” aos ensinamentos do Papa”.
“A família não é apenas um tema do qual se fala. Gostaria que as famílias pudessem falar de si próprias nos media”, revelou, assinalando que não existem apenas dificuldades para serem noticiadas mas “também há grandes testemunhos de amor, de entrega, de generosidades”.
“Nos meios de comunicação e nas redes sociais as famílias poderiam falar delas e surgiriam coisas muito mais bonitas do que imaginamos. Conhecemos o ditado ‘faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que cresce’. E é verdade”, comentou D. Claudio Maria Celli.
O arcebispo italiano é um dos membros do Sínodo dos Bispos sobre a família (4 a 25 de outubro), uma oportunidade para “ouvir os pastores da Igreja”, com reflexões sobre os “anseios, dificuldades, esperanças, lutas” que as famílias enfrentam no mundo de hoje.
“Pessoalmente, gostei muito do outro Sínodo [2014] e penso que este também vai ser muito proveitoso, enriquecedor”, concluiu.
A Igreja Católica portuguesa vai promover nos dias 24 e 25 deste mês as Jornadas Nacionais de Comunicação Social, com o tema “Comunicação e Família: Partilha de afetos”, cujo programa inclui uma conferência de D. Manuel Clemente.
O cardeal-patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa vai falar a poucas dias do início da assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a Família (4-25 de outubro, Vaticano).
- Manuel Clemente é delegado da Conferência Episcopal Portuguesa à assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família, juntamente com o presidente da Comissão Laicado e Família, D. Antonino Dias.
- Pio Alves, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, considera que esta iniciativa vai ser “uma grande oportunidade para analisar a relação entre os media e a família, a partir de diferentes contributos”.
“A reflexão em torno do tema ‘Comunicação e família: partilha de afetos’ é inspirado nas questões que permanentemente marcam o debate público e acontece no contexto do Sínodo dos Bispos que reúne em Roma representantes da Igreja Católica de todo o mundo para analisar a pastoral da Igreja Católica junto da família e na Mensagem do Papa para a última Jornada Mundial das Comunicações Sociais”, escreve o responsável, no convite que endereça aos profissionais do setor.
O bispo auxiliar do Porto sublinha que estas jornadas anuais “são uma oportunidade para analisar temáticas relevantes relacionadas com os media, na agenda da sociedade e da Igreja”.
Promovidas pela Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais e organizadas pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, as Jornadas reúnem em cada ano responsáveis diocesanos pelo setor dos media, jornalistas e outros profissionais dos meios de comunicação social regionais e nacionais.
As jornadas iniciam-se no dia 24, com uma intervenção de D. Pio Alves, a que se seguem dois painéis sobre os temas ‘Família na comunicação’ e ‘Família em comunicação’.
Duarte Roquette, Tito de Morais, Rita Carvalho, Eugénia e Fernando Magalhães, José Gameiro Marília Monteiro Neto e Vitor Neto são os intervenientes convidados.
A agenda de dia 25 começa com a conferência ‘Comunicação e família’, D. Manuel Clemente, seguindo-se um tempo de debate.
As Jornadas Nacionais de Comunicação Social vão decorrer em Fátima, na Casa Domus Carmeli, e as inscrições podem ser feitas em www.ecclesia.pt/jornadas2015.
O evento vai estar em destaque na edição de hoje do Semanário ECCLESIA
CR/Ecclesia