Igreja tem de ser “uma voz mais direta e corajosa”

Renato Moura, antigo deputado regional, aponta desafios que novo bispo coadjutor vai encontrar

A Diocese de Angra recebe este domingo um novo bispo coadjutor, D. João Lavrador, que vai encontrar nove ilhas com realidades diversas e uma história particular de chegadas e partidas que marca a identidade açoriana.

O antigo deputado Renato Moura, que passou 16 anos na Assembleia Regional dos Açores, afirma que o novo bispo coadjutor de Angra vai chegar a um território onde a Igreja Católica precisa de se afirmar mais como voz ativa no meio da sociedade.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, Renato Moura refere que “a Igreja Católica pode ter um papel importantíssimo” na defesa da dignidade e dos valores humanos, ainda para mais num ambiente em que a maior parte das pessoas são católicas e “muito sensíveis à sua mensagem”.

No entanto, frisa o antigo deputado, para isso a Igreja Católica “tem de ser mais direta” na sua mensagem e “nas apreciações que faz relativamente à todos os fenómenos de natureza social.

“A Igreja não pode ser dependente do poder, ele tem a sua função, mas tem também sempre um papel de denúncia perante as situações que considere que efetivamente não são as melhores, tem o dever de fazer com que as consciências se abram e entendam os fenómenos que efetivamente existem”, complementa.

Para Renato Moura, há hoje em Portugal e nos Açores “muita coisa a acontecer e é preciso que a Igreja tenha a coragem de as denunciar, de as dizer e fazer com que as pessoas reflitam acerca delas”.

“E , nesse espaço há efetivamente muita coisa a fazer”, alerta o político que diz que o novo prelado, que esteve durante sete anos na diocese do Porto como auxiliar, depara-se agora com o desafio de uma nova realidade, com muitas “especificidades”, declara Renato Moura.

“Em todas as áreas, nós só da política e da vivência mas na religiosidade, com maneiras de ser e de estar diferentes em cada ilha, com hábitos que se foram criando porque as ilhas tiveram muitos anos muito fechadas dentro de si”, aponta o político.

Mesmo hoje, em que o contexto social açoriano já é outro, e os transportes também são outros, as vivências das pessoas ainda continuam a ser muito específicas.

Para Renato Moura, o novo bispo coadjutor deverá vir “sem ideias preconcebidas” e com espírito “aberto” a uma nova realidade, a aprender a conhecer um novo ambiente.

“Pelas declarações que fez, D. João Lavrador já vem com humildade para entender esta realidade, e julgo que isso é essencial”, considera o antigo membro do parlamento açoriano.

Depois contará “claro” com a sua “ experiência de vida, muito grande a vários níveis, que irá facilitar o contacto com as realidades que vai encontrar”.

Para já, Renato Moura recorda que D. João Lavrador vai chegar ao Arquipélago dos Açores numa altura em que este prepara a receção da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, o que será uma “experiência ótima”.

Já o padre António Rego escreve, num texto no Semanário Digital Ecclesia, que o açoriano é, “por natureza, viajante, peregrino, apaixonado pela distância e facilmente se deixa seduzir pelo chamamento enamorado da aventura”.

Com conhecimento de causa destaca que ser natural dos Açores é ser portador de uma “história peculiar” com séculos em “confronto com outros que foram chegando, com os muitos que partiram e semearam novos mundos”.

Segundo o sacerdote e jornalista, a viver há vários anos em Lisboa, os que formam a pátria da diáspora, em muitos pontos do mundo, constroem uma “nova essência” de ser açoriano revestidos duma personalidade que “nem sabem definir, nem conseguem rejeitar o berço que os embalou no meio do Atlântico”.

“O mar não é um cerco que debrua as rochas de cada ilha. É uma grande porta que se abre para os olhos marejados que diariamente desafiam horizontes, e estrada livre para chegar a outras paragens, culturas, histórias e expressões de fé”, desenvolve.

Neste contexto, o padre António Rego observa por sua vez que os Açores são “muito mais” que a região autónoma dum “pequeno país da Europa” e destaca a sua “gente, cultura, fé, personalidade”.

“Um palpitar de vida que desafia o tempo, como desafia os vulcões ou o estremecimento de terra que tem como imagem de marca o não ser arrogantemente firme”, acrescenta.

Segundo dados fornecidos pelo Boletim Eclesiástico mais de 92,39% dos residentes professam o catolicismo, ou seja, 228 285 habitantes nas nove ilhas do arquipélago.

A Diocese de Angra foi erigida pelo Papa Paulo III com a bula ‘Equum Reputamus’, de 1534; atualmente tem 165 paróquias e 22 curatos, 160 sacerdotes e seis diáconos permanentes ao serviço e a partir dos relatórios dos párocos de 2014, a Cúria diocesana contabilizou 469 casamentos católicos e 2457 batismos.

Scroll to Top