Professor Roque Amaro fala aos sacerdotes da diocese de Angra
A igreja em geral e, os sacerdotes, em particular, têm “especiais responsabilidades” na construção de um mundo mais solidário, disse esta segunda feira o economista e professor do ISCTE Rogério Roque Amado, durante a primeira sessão formativa do clero açoriano, que teve lugar em Ponta Delgada.
Perante os inúmeros problemas sociais que o mundo atravessa, a Igreja “tem de ir para além do anúncio da palavra promovendo uma economia humana acima da economia do lucro; um desenvolvimento integrado acima do desenvolvimento economicista e a felicidade das pessoas que não se pode limitar à produtividade”, referiu o investigador.
Rogério Roque Amaro, que juntamente com o sociólogo Fernando Diogo, da Universidade dos Açores, falou aos sacerdotes das ilhas de São Miguel e Santa Maria (hoje está na Terceira e quarta feira no Faial) sobre as questões da pobreza e a Doutrina Social da Igreja, desafiou os sacerdotes a “desassossegarem-se”.
“Não podemos ficar cercados pelos sacramentos sem que eles tenham tradução prática na realidade e deem resposta ao sofrimento que as pessoas estão a ter”, sublinhou o docente universitário.
“É fundamental que nos desassosseguemos, nós cristãos e os padres têm uma responsabilidade acrescida porque são animadores; não são apenas ministros dos sacramentos mas anunciadores de uma prática de caridade” destacou Rogério Roque Amaro que, apesar de denunciar muitos dos problemas que atravessam hoje a sociedade – desemprego, envelhecimento da população, falta de tempo e de condições dignas para a terceira idade, falta de soluções para os jovens sem emprego, sem capacidade para terminar os seus cursos e sem perspetivas de futuro- também apresentou soluções que já estão a ser desenvolvidas por agentes ligados à Igreja.
Destacou as empresas de economia social, desafiou os centros sociais e paroquiais a não se deixarem iludir com uma progressiva profissionalização e pediu aos sacerdotes mais dinamismo na motivação das suas comunidades alertando-as para as responsabilidades sociais dos leigos, tonando-os agentes “críticos e comprometidos na construção da pólis”.
De resto, um repto lançado também pelo bispo de Angra.
“Um dos desafios que temos nas nossas paroquias é a incorporação dos leigos porque se há áreas onde eles podem e devem participar é na ação social” referiu D. João Lavrador louvando “o muito que a igreja açoriana tem feito” mas lançando o desafio “para que se faça ainda mais”.
“Os leigos têm de ter uma cidadania eclesial. Até porque eles têm um sentido próprio de interpretação dos sinais dos tempos que nos devem e podem ajudar e nós devemos estimula-los e com este estímulo despertar dinamismos dentro da comunidade”, referiu o prelado.
O clero açoriano começou ontem uma formação de três dias, repartida entre Ponta Delgada, Angra e Horta, sobre as orientações diocesanas de pastoral, centrando atenções na prioridade para este ano pastoral, que se inicia a 2 de outubro.
As reuniões são divididas em duas partes: uma mais formativa e outra mais informativa e enquadradora da futura ação diocesana.
Partindo da prioridade sugerida ao prelado quer pelo Conselho Presbiteral quer pelo Conselho Pastoral Diocesano- o aprofundamento da Pastoral Social da Igreja-, a primeira parte dos trabalhos desta sessão formativa conta com duas intervenções sobre pobreza no arquipélago pelos professores Rogério Amaro e Fernando Diogo, que apresentarão um diagnóstico da realidade social açoriana e refletirão sobre os caminhos que a igreja aponta para uma melhor intervenção social, designadamente através da Doutrina Social da Igreja.
A segunda parte, de tarde, é sempre orientada pelo bispo de Angra que apresenta as linhas da ação pastoral para o próximo ano.
Esta apresentação é feita por “zonas” a saber: na segunda feira foi no centro Pastoral Pio XII, em Ponta Delgada, abrangendo as ouvidorias de São Miguel e a de Santa Maria; hoje decorreu no Seminário Episcopal de Angra, em Angra do Heroísmo com as ouvidorias da Terceira, São Jorge e Graciosa e, amanhã, quarta feira, decorrerá no salão do Bom Pastor, na Horta com as ouvidorias do Faial, Pico, Flores e Corvo.
“Este modelo tem uma intencionalidade: aproximarmos o máximo a centralidade da diocese , apresentando uma proposta formativa de acordo com a realidade do arquipélago também em termos de proximidade geográfica. Agora esta formação é para sacerdotes mas no futuro queremos também que seja extensível a leigos”, referiu o bispo de Angra ao Sítio Igreja Açores.