Pároco sublinha “generosidade” dos fieis. Orador convidado destaca importância das igrejas como lugar onde “Deus vem ter connosco”
Após quatro meses de obras de restauro e conservação, a Igreja de São Roque dos Altares, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, reabriu esta sexta feira à noite ao culto numa cerimónia presidida pelo Vigário Geral da Diocese, Pe Hélder Fonseca Mendes e que contou com uma palestra proferida pelo Professor de Teologia Moral do seminário Episcopal de Angra, Pe José Júlio Rocha, sobre “A Casa da Igreja”.
Apresentando a casa da igreja como um “simbolo” do processo de sedentarização do homem, que “inventou um espaço para celebrar Jesus”, o sacerdote lembrou que a dimensão mais importante da fé é, no entanto, aquela que conserva “um certo nomadismo”, no sentido de “desapego” ás coisas materiais.
“A casa da igreja deve ser o espaço onde nos sintamos nómadas, desinstalados, desacomodados, peregrinos, rebanho”, isto é , “não se trata de uma morada permanente” mas de “um espaço de espera e de encontro”.
Por isso, diz o Pe José Júlio Rocha, “a casa da Igreja não pertence a ninguém, ninguém é dono, ninguém é patrão, todos somos servos. O sacrário mais importante onde Deus habita, o verdadeiro lugar onde Deus, em Jesus, quis vir morar, é o coração do homem, o coração de cada um de nós: aí é que é a Igreja. O templo é apenas a sua casa”.
Aliás, percorrendo os vários estilos artísticos que nortearam a construção de igrejas, capelas e ermidas, ao longo da história, traduzindo a ideia de casa de Deus que o homem tinha em cada época, desde as igrejas bizantinas, às românicas, góticas, renascentistas, barrocas ou às minimalistas do pós modernismo, o sacerdote rejeitou qualquer sentido lógico na apropriação que o homem possa fazer de um templo.
“Na Igreja devemos aprender que nada é nosso. Quem fala em nome Deus não se ponha em seu lugar, quem constrói para Deus não constrói à sua medida, quem está na casa de Deus não está na casa de ninguém: é Deus que está em sua casa”, concluiu o palestrante, sublinhando “a simplicidade e a beleza” da casa da Igreja nos Altares, que deve ser uma fonte de inspiração para que todos os que a visitem se sintam “mais próximos de Deus”, não no sentido de “uma conquista” mas de “um encontro”.
O pároco dos Altares, Pe João Bettencourt Pires, destacou a “generosidade”, “o empenho inexcedível” de todos os que se envolveram nas obras de conservação e restauro da igreja, lembrando que se tratou de um volume financeiro “elevado” e agradeceu o apoio dado pelas entidades públicas, Governo Regional dos Açores e Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.
As obras de conservação e renovação da bancada, das estruturas de suporte do teto, soalho e limpeza “mais aprofundada” foram supervisionadas pela própria paróquia e foram as primeiras depois da reconstrução após o sismo de 80. Foram também recuperadas as salas de catequese.
Além das obras de restauro, a paróquia aproveitou para instalar um equipamento de som novo – “oferta de um paroquiano”- direcionado para a celebração da palavra, “idêntico ao da maioria das igrejas do país”.
O Pe João Pires lembrou as dificuldades existentes quando chegou à paróquia há três anos- “era uma situação muito dificil”, sublinhou- para destacar a ajuda que teve de todos os paroquianos que direta ou indiretamente se têm envovido na gestão e organização da paróquia “com muita dedicação”.
Por isso, apelidou este dia como “de grande alegria para todos”.
A Igreja de São Roque dos Altares localiza-se na freguesia dos Altares, concelho de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira. O templo tem como orago São Roque desde 25 de junho de 1988, a data da sua reabertura depois das obras de reconstrução após o sismo que abalou a ilha Terceira 1 de janeiro de 1980.
A sua primitiva construção remonta ao século XV, em data anterior a 1480.
Apesar do padroeiro da freguesia ser São Roque, a principal festa religiosa da comunidade ocorre anualmente no primeiro domingo do mês de Setembro, e é dedicada a Nossa Senhora de Lourdes, culto introduzido na freguesia em finais do século XIX.
A cerimónia de reabertura da Igreja de São Roque dos Altares terminou com as atuações do grupo coral da paróquia e da filarmónica Coração de Jesus.