Ao fim de seis anos de obras, a Igreja de Santo Inácio de Loiola em Angra do Heroísmo reabre ao culto
A habitual Procissão dos Passos promovida pela Irmandade de Santa Cruz e Passos no II Domingo da Quaresma, sediada na Igreja do Colégio, em Angra do Heroísmo, não se realizará ainda este ano mas a Igreja, que esteve encerrada ao culto desde agosto de 2016, reabrirá no próximo fim de semana, informa uma nota enviada ao Igreja Açores.
A pandemia que “nos obrigada a colocar a saúde das pessoas à frente”, as “obras nas ruas circundantes” e o “atraso nas pinturas e limpezas” levaram a Irmandade a decidir adiar para o III Domingo da Quaresma “as cerimónias possíveis”, refere a nota.
Assim, no sábado dia 19 de março, “em vez da mudança do Senhor dos Passos far-se-á uma via-sacra pelas 20h00” esclarece a nota. No domingo, dia 20, o Administrador Diocesano presidirá à Missa de reabertura da Igreja do Colégio, às 12h00, mas “não se realizará a procissão pelos motivos anunciados”, refere ainda a nota.
A partir do III Domingo da Quaresma ” e se não houver outro tipo de constrangimentos a Igreja ficará com o horário habitual e com a missa dominical ao meio-dia”, avança ainda o cónego João Maria Mendes, reitor da Igreja do Colégio, em declarações ao programa de rádio Igreja Açores.
“Não se trata de uma inauguração mas de uma reabertura depois destas obras que tiveram muitos incidentes de percurso mas que chegam ao fim. A Igreja não está totalmente restaurada: faltam muitas coisas, fizeram-se muitas obras, mas muitas outras estão ainda por fazer” nomeadamente “telas, dourar imagens, tocheiros estando em fase de inicio de restauro a Imagem do Beato João Baptista Machado” afirma ainda o responsável.
A obra foi suportada pela Direção Regional da Cultura e pela Ordem do Carmo, com protocolos feitos com a Direção Regional da Cultura e Camara Municipal de Angra.
A Igreja de Santo Inácio de Loiola, conhecida como Igreja do Colégio, foi alvo de obras prolongadas de reabilitação da cobertura e de conservação dos elementos decorativos em talha no altar-mor e nas capelas laterais da igreja.
Foi uma obra que visou renovar a cobertura total da igreja, com destaque para o tecto da capela mor que não tinha qualquer intervenção desde a reconstrução na sequência do sismo de 80.
Esta Igreja, que com a Sé, as Igrejas da Misericórdia e de São Francisco, constituem os monumentos mais emblemáticos da cidade património, foi construída a partir de 1637, integrada no programa que a Companhia de Jesus ali se propunha implantar desde a sua chegada em 1570, e desenhada pelo arquitecto Bento Tinoco.
É um templo de uma só nave, o que obriga a uma atenção fixada no altar-mor, onde se situa o sacrário e o trono do Santíssimo Sacramento. A talha dourada dos altares, tão característica deste tempo, tem nesta igreja uma presença muito significativa. O altar-mor é um bom exemplar do chamado estilo jesuítico, com um corpo central para instalar o sacrário e o trono de adoração do Santíssimo Sacramento (modificado em 1804 para se albergar a imagem de N.ª S.ª do Carmo), e quatro nichos laterais que expunham os principais santos da Companhia: Inácio de Loiola, Francisco de Borja, Francisco Xavier e Estalisnau.
A pintura exposta, ainda que de desigual qualidade, é uma das maiores riquezas do templo. Sobressai a que ornamenta o altar de S.Domingos, da autoridade Bento Coelho da Silveira, e a do altar de S. Francisco Xavier, com cenas da vida do santo, atribuídas à escola de André Reinoso. Porém, a jóia, é uma Santa Úrsula, de escola portuguesa do séc. XVI. A imaginária também é posterior aos jesuítas, e para ali trazida pelas respectivas irmandades, como as imagens do Senhor dos Passos, vinda do extinto convento da Graça, e a de N.ª S.ª do Carmo, hoje no altar-mor, de roca e vestida com belos tecidos bordados a ouro. (Esta descrição pormenorizada da Igreja foi retirada de um texto da autoria de José Guilherme Reis Leite, que aqui citamos).