Iniciativa acontece na noite de Natal, após a ´missa do galo´
A Sacristia da Igreja de São José, em Ponta Delgada, vai ser aberta ao público a partir da próxima noite de Natal, depois de um restauro que durou cerca de cinco meses e que resultou de uma “revelação única”.
Trata-se de um conjunto de pinturas sobre madeira, que datam do inicio do seculo XVIII que pela sua “originalidade e problemática, são únicas no contexto açoriano que não é rico neste tipo de obras barrocas”, disse ao Sítio Igreja Açores o pároco Pe Duarte Melo.
As pinturas, até há cerca de meio ano desconhecidas, estavam tapadas por uma pintura aquosa que “felizmente” foi fácil de limpar, o que “facilitou o restauro” num tempo recorde de cinco meses.
A obra comparticipada em 50% pelo Governo Regional custou 57 mil euros; a outra metade foi assegurada pelos paroquianos.
Estes trabalhos, que decorrem há cinco meses, acontecem graças ao “empenho e zelo” da comunidade, disse o Pe Duarte Melo.
“Esta comunidade zela pelo seu património que fala do passado mas também nos orienta para o futuro” diz ainda o sacerdote frisando que por isso “deve ser a primeira a ver este trabalho numa época tão especial para quem vive o mistério da encarnação”.
“É mais um contributo para a riqueza do património, valorização da história de arte dos Açores e também da fé de um povo”, acrescentou ainda o sacerdote que, entretanto, já recorreu ao maior estudioso português de tetos barrocos, Professor Vítor Reis, para fazer um estudo aturado deste teto que “trata e reproduz a história do homem”.
“Depois desta revelação já estamos a pensar num futuro próximo e não querendo chamar museu, queremos criar a partir desta obra restaurada uma exposição visitável a partir de um património integrado, a que chamaremos o `circuito da sacristia´, onde para além dos tetos se poderá ver um património integrado, a partir da exposição de alfaias e paramentaria do mesmo período.
“Trata-se de contarmos a história de fé e de salvação”, adianta ainda o Pe Duarte Melo, que quando pela segunda vez chegou à paróquia de São José, mesmo no coração da cidade de Ponta Delgada, tinha dois propósitos: contribuir ativamente para o restauro e conservação do património e lançar mãos à obra com vista à erradicação de pobreza nesta comunidade paroquial, cada vez mais envelhecida.
De há três anos a esta parte, a igreja de são José tem sido alvo de várias intervenções, no âmbito dos 300 anos do templo. A primeira intervenção foi ao nível das coberturas e janelas; depois foi a vez da Capela do Santíssimo e Capela Mor e, também, os retábulos. Foram, ainda restauradas três imagens: Crucifixo, São Domingos e São Srancisco… e agora a sacristia.
Ao todo, a Igreja já investiu cerca de 250 mil euros nos últimos três anos em intervenções que vão desde o retelho e caixilharia do edifício ao restauro de altares e património integrado.
A parte mais visível deste trabalho incluiu o restauro de duas imagens da Capela Mor, de São Francisco e São Domingos, que agora ladeiam as imagens principais de Nossa Senhora da Conceição e de São José, bem como a reposição de um sacrário do Século XIX, em forma cilíndrica, na Capela do Santíssimo Sacramento.
Em curso está ainda a recuperação parcial do Arcaz (móvel onde se guardam os paramentos) que se situa na sacristia bem como três pinturas.
Continua a faltar uma intervenção nos frescos e retábulos na Capela de Nossa Senhora das Dores, habitualmente utilizada para velórios, bem como no Batistério.
A igreja de São José foi construída entre 1709 e 1714, data em que foi transladado o Santíssimo Sacramento para o novo edifício e constitui um dos exemplos “mais emblemáticos” da arquitetura religiosa açoriana.
A Igreja de Nossa Senhora da Conceição, do antigo Convento de São Francisco, está instalada no lado poente do Campo de São Francisco, em Ponta Delgada e combina “uma fachada altiva” com “um generoso espaço interior dividido em três naves, projetando os arcos de volta perfeita sobre pilares de seção quadrangular a uma altura considerável o que contribui para a vaga sensação de igreja salão que contraria as proporções atarracadas dos templos açorianos” refere Isabel Soares Albergaria no texto do Catálogo “igreja Paroquial de São José, património móvel e imóvel” .
No interior destacam-se ainda os altares decorados em talha dourada e os os painéis de azulejos datados do século XVIII (azuis e brancos).
A igreja encontra-se decorada com estátuas dos séculos XVII e XVIII, de influência hispano-mexicana. Na sacristia destaca-se o mobiliário barroco em jacarandá.