Por Monsenhor José Medeiros Constância*
Em 1959 foi anunciado o Concílio Vaticano II. A sua realização ocorreu de 1962 a 1965. Depois foi o post-Concílio que continua ainda hoje. Sim, porque o que são cinquenta e tal anos para aplicar um Concílio?!
O Concílio Vaticano II foi vivido em toda a Igreja com o entusiasmo inicial, com entusiasmos posteriores mais realistas e com as debilidades próprias dos avanços e recuos para o concretizar.
Os entusiasmos conciliares nos Açores foram polarizados em focos reais como o Seminário de Angra, algumas paróquias e movimentos como a Ação Católica e os Cursos de Cristandade. Não livre de tensões e controvérsias, o início do post-Concílio nos Açores teve maior expressão na renovação litúrgica e nos movimentos laicais. À catequese renovada difundida por todas a ilhas, seguiram-se as estruturas ou figuras jurídico-pastorais dos Vigários Episcopais, do Conselho Presbiteral e dos Secretariados.
A celebração dos quatrocentos e cinquenta anos da Diocese, a preparação e a vinda da imagem peregrina aos Açores e a visita de João Paulo II encheram a nossa Igreja Diocesana vários anos.
Não obstante, todo o entusiasmo inicial com o Concílio, o post-Concílio sentiu-se, entre nós, como por toda a parte, nos avanços e recuos, sem mentalidades renovadas, estilos de vida evangélicos e com a falta de uma pastoral viva de construção de comunidades. A primeira grande debilidade foi que o Concílio não levou a nossa Igreja a uma presença real e interventiva no mundo dos Açores, como se esperava.
É verdade que se falou muito em doutrina social da Igreja e se trabalhou com alguns movimentos (Semanas de Estudo década de 60) e Cursos de Cristandade nesta e noutras décadas; mas mexeu-se pouco com a presença dos cristãos no mundo e ambientes açorianos. Faltou consistência e permanência de posições e não houve apoio aos que mais denunciavam as injustiças sociais e lutavam nestas áreas.
Para além da debilidade de uma presença viva no mundo real da mudança cristã nos Açores, viveu-se sempre de uma Igreja muito clerical, onde as comunidades não foram construídas numa perspetiva circular e participativa; ficando sempre atrás das grandes e tradicionais manifestações da religiosidade popular e dos grandes eventos diocesanos que tomaram a dianteira.
O mundo científico, do trabalho, do progresso, o juvenil e o da comunicação social cresceram sem um diálogo grande da Igreja com estes setores que passaram a ser o “cérebro” do mundo dos Açores. Por eles, começaram a pensar e quase a viver a gente das nossas ilhas.
Chegamos à década de noventa, um pedaço cansados e com uma renovação conciliar ainda pouco consistente.
Ajudou-nos a fortalecer dois grandes sinais e acontecimentos: o Congresso de Leigos e o Plano de Pastoral da Diocese, dos quais falarei no próximo trabalho.
*Monsenhor José Medeiros Constância é o assistente diocesano da pastoral da Familia há 8 anos. Este é o primeiro de cinco artigos sobre este assunto