Por Renato Moura
Há seres humanos cujo óbito dói aos amigos e aos antagonistas. Um desses homens fica para a história com o nome de Alvarino Pinheiro.
Pertenceu ao conjunto dos deputados eleitos na primeira Assembleia Regional, em 1976, pioneiros da concretização da autonomia. Desde então se destacou como membro do grupo de deputados que, pertencendo à maioria, não só lutaram pelos valores e causas justas, mas impediram excessos e aventuras. Um dos obreiros da nova autonomia democrática.
Um sereno pensador, um distinto analista; na reflexão fundou as suas firmes convicções. Na defesa da causa pública não só soube dialogar com os que pensavam diferente, como nunca lhe faltou agilidade e coragem para enfrentar os opositores. Um consagrado estratega. Foi um mestre do humor: nos diálogos informais, e com argúcia o tornou eficaz no debate político e parlamentar.
Cumprindo o que sentia ser o seu dever e compromisso como deputado, deixou o grupo parlamentar do partido de poder (PSD). Parlamentar distinto creditado, fez-se eleger deputado concorrendo pelo CDS, no qual se viria a filiar e ser dirigente.
Depois eleito presidente do CDS/PP Açores. Nesta nova etapa da vida política tornaram-se ainda mais evidentes os seus dotes e a defesa dos valores e princípios em que acreditava. Só quem passou pela situação conhece a dificuldade sentida na falta de pessoas e de meios quando se vem dum grande partido, para um pequeno; e então não se estava à procura de poder, o foco era o serviço, a crítica fundada e construtiva, a credibilização e o crescimento. Evidente coragem de Alvarino Pinheiro.
Trabalhou com quem tinha, procurou novos colaboradores. Sempre recusou ser chefe. Fez da liderança um espaço de diálogo, traçando objectivos, calendarizando, procurando um crescimento sustentado para um partido que, sendo pequeno, se queria honrado. A todos marcou pela serenidade que imperava naquelas reuniões por ele convocadas, como dizia: “numa mesinha, com as pernas debaixo da mesa, mas com papel e esferográfica”. A eficácia trouxe resultados cada vez mais sensíveis, no prestígio do ideário, na credibilidade das propostas, também em termos eleitorais, crescimento e organização do partido nas várias ilhas. Mas nem assim o cargo lhe subiu à cabeça, tendo-o deixado muito melhor que recebera, quando cessou funções.
Teve competente acção no jornalismo e nas associações.
Face à generalização do descrédito nos políticos, justifica-se trazer aqui estes testemunhos. Oxalá sirvam de exemplo. Amenizariam o desgosto da perda do Amigo.