Devoção nacional precedeu proclamação pontifícia de dogma
A solenidade da Imaculada Conceição, que a Igreja Católica assinala anualmente a 8 de dezembro, é feriado nacional em Portugal, um reconhecimento da importância desta data na espiritualidade e identidade do país.
Apesar do contexto de pandemia e do recolher obrigatório em mais de 127 concelhos do território continental, e da cerca sanitária a Rabo de Peixe, prolongada até domingo, a celebração festiva desta data vai acontecer em todo país, com destaque naturalmente, para as diferentes festas paroquiais em toda a diocese.
O destaque vai para o Santuário de Nossa Senhora da Conceição, em Angra do Heroísmo, onde o bispo diocesano, D. João Lavrador presidirá à ordenação de três novos diáconos, todos alunos do 6º ano do Seminário Episcopal de Angra.
Durante todo o dia, nove missas envolverão a participação de movimentos, associações e filarmónicas que celebrarão Nossa Senhora, na sua Imaculada Conceição. Em todas elas há restrições de forma a que a segurança e a saúde estejam em primeiro lugar.
O dogma da Imaculada Conceição de Maria foi proclamado a 8 de dezembro de 1854, através da bula ‘Ineffabilis Deus’, a qual declara a santidade da Virgem Santa Maria desde o primeiro momento da sua existência, sendo preservada do pecado original.
A ligação entre Portugal e a Imaculada Conceição ganhou destaque em 1385, quando as tropas comandadas por D. Nuno Alvares Pereira derrotaram o exército castelhano e os seus aliados, na batalha de Aljubarrota.
Em honra a esta vitória, o Santo Condestável fundou a igreja de Nossa Senhora do Castelo, em Vila Viçosa, e fez consagrar aquele templo a Nossa Senhora da Conceição.
A antiga igreja de Nossa Senhora do Castelo, espaço onde se ergue atualmente o santuário nacional, afirmou-se nos finais do século XIV como o primeiro sinal desta devoção, em toda a Península Ibérica.
Um segundo passo deu-se durante o movimento de restauração da independência que acabou com o domínio castelhano em Portugal e que culminou com a coroação de D. João IV como rei de Portugal, a 15 de dezembro de 1640, no Terreiro do Paço, em Lisboa.
O mesmo D. João IV, atento a uma religiosidade que também já envolvera a construção de monumentos como o Mosteiro da Batalha, o Convento do Carmo e o Mosteiro da Conceição, coroou a Imagem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa como Rainha e Padroeira de Portugal durante as cortes de 1646.
A Universidade de Coimbra tem um papel importante em todo este processo, já que todos os seus intelectuais defenderam o dogma sob forma de juramento solene.
Após a proclamação dogmática surgiu em Portugal um movimento no sentido de erguer um monumento nacional que assinalasse a definição de Pio IX.
Em 1869 concluiu-se esse primeiro monumento, no Sameiro, seguindo-se-lhe a construção dum santuário dedicado à Imaculada Conceição de Maria, cuja imagem foi coroada solenemente em 1904.
(Com Ecclesia)