Obra apresenta uma descrição biográfica e iconográfica de todos os bispos açorianos
Vai ser lançada hoje em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira e, posteriormente em Ponta Delgada e na Horta, nas ilhas de São Miguel e Faial, respetivamente, a obra “Tombo Heráldico dos Açores”, da autoria de António Ornelas Mendes e Jorge Forjaz, onde constam as representações heráldicas dos 38 bispos de Angra e dos 16 bispos nascidos nos Açores.
A obra, “inédita” em Portugal, é mais vasta, apresentando uma larga iconografia e um estudo genealógico, que explica a composição de todos os brasões das famílias nobres açorianas– 231- , tantos quantas as cartas de armas passadas aos que no arquipélago se destacaram pelo nome ou pelos serviços prestados ao reino, desde 1503 a 1910.
Este novo livro vem na sequência dos vários estudos genealógicos desenvolvidos pelos dois autores no que respeita à cracterização das famílias açorianas.
A utilização de simbologia de identificação, isto é, de brasões, é antiga. Na Idade Média, eram os próprios cavaleiros que decidiam como se distinguiam dos demais. Mais tarde, essa simbologia passou a ser ordenada pelo poder régio, embora mantivesse uma função identitária.
“Essa prática terminou com o fim da monarquia e por isso é um assunto arrumado desde outubro de 1910”, o que não acontece com a Igreja.
Os Bispos, quando são ordenados, escolhem de imediato o símbolo que os distinga dos demais, elegendo o seu brasão. No passado, muitos, oriundos de familias nobres utilizavam o símbolo familiar; mas os que não tinham linhagem, escolhiam os seus próprios símbolos- as chamadas armas de fé.
Por isso, a obra apresenta, para além dos brasões dos nobres, as representações heráldicas dos 38 bispos de Angra e dos 16 bispos nascidos nos Açores.
“Nós temos dois conjuntos de bispos tratados: os de Angra, que são 38, e os bispos naturais dos Açores que andaram por esse mundo fora, que são 16”, disse ao Portal da Diocese Jorge Forjaz.
O livro contém, a foto de todos os prelados diocesanos, uma nota biográfica de cada um deles, uma foto das sepulturas encontradas, a sua genealogia, e o desenho a cores dos seus brasões “o que é absolutamente novo pois em muitos casos teve de se fazer uma reconstituição do brasão”, sublinha o autor.
“Acrescentámos também uma explicação sobre as frases inscritas nos brasões, contextualizando-as” refere Jorge Forjaz lembrando-se da “dificuldade” que foi, por exemplo, traduzir uma frase em chinês inscrita no brasão do Bispo Emérito de Macau, D. Arquimínio da Costa, ainda vivo e residente no Pico, que acabou por ser feita devido à presença de uma maestrina chinesa, do Coro da Academia Musical Pio X, que esteve em Angra.
As histórias “particulares” repetem-se porque “foram muitos anos de trabalho, de recolha e de confronto de fontes históricas muito diversificadas”, lembra o autor.
Há por exemplo, os bispos que tendo nascido nos Açores andaram em missão em Moçambique, em Timor, em Macau, na Índia, em Goa, em Portugal, no Brasil e na América, e desses há retratos, sepulturas e brasões e histórias interessantes como a de D. Cristóvão da Silveira – o único bispo natural de Angra do Heroísmo – que morreu a caminho da Índia.
Ao contrário do que acontecia na maioria das vezes àqueles que morriam em alto-mar, o corpo de D. Cristóvão da Silveira chegou a terra e foi sepultado na Sé de Goa. E lá está inscrito: natural da ilha Terceira. Dele constam, no livro, três retratos, o que, por si só, é motivo de espanto, sobretudo tratando-se de um homem do século XVII.
Toda esta informação resulta num livro que é considerado, pelo presidente do Instituto Português de Heráldica, Miguel Metelo de Seixas, “invulgar no panorama editorial português”.
Trata-se, entende, de uma “obra notável”, quer “pela vastidão do seu objeto de estudo”, quer “pela solidez da pesquisa”, quer pela “riqueza gráfica”.
Os seus autores, paroquianos da Sé de Angra e leigos empenhados, para além da competência cientifica na área da obra apresentada, desempenharam funções docentes, altas responsabilidades nas áreas da educação e cultura de Governos dos Açores, e ainda como adidos culturais juntos das Embaixadas de Portugal na Itália e Marrocos, respetivamente.
“Será uma obra de referência para a Igreja Local”, admite um dos autores em declarações ao Portal da Diocese.
O livro é uma edição de 400 exemplares, da Caixa Económica da Misericórdia de Angra do Heroísmo e tem um preço de capa de 65 euros, podendo no entanto, ser adquirido até ao dia 31 de agosto por 45 euros, através de uma subscrição, disponibilizada pela instituição bancária.
Além do lançamento no arquipélago, o livro será igualmente lançado em Lisboa.
Na forja está já outro projeto. Depois da genealogia das familias açorianas, da heráldica das familias e da heraldica eclesiástica, os autores estão a trabalhar num projeto sobre a heráldica nas artes decorativas, tendo desenvolvido já “um estudo aturado de 1000 peças inventariadas no arquipélago”.
Nenhuma diocese do país, nem sequer o patraircado de Lisboa, possui um inventário desta natureza, refere Jorge Forjaz destacando que “há listagens mas não estão estudadas”.