“Há uma fobia para com os pobres” num mundo “cada vez mais surdo às vozes da tolerância”, diz assistente diocesano da Comissão Justiça e Paz

II Dia Mundial dos Pobres assinala-se este domingo

A pobreza “é uma questão cristã” e não apenas uma questão dos governos ou dos sindicatos e “às vezes parece que perdemos de vista esta batalha” afirma o Pe. José Júlio Rocha, assistente da Comissão Diocesana Justiça e Paz, ao programa de rádio Igreja Açores que vai para o ar este domingo na Antena 1 Açores e no rádio Clube de Angra.

O sacerdote, professor de Teologia Moral e Doutrina Social da Igreja no Seminário Episcopal de Angra, reflete sobre a Mensagem do Papa Francisco para o II Dia Mundial dos Pobres que se celebra este domingo, que será “mais um dia para alertar as consciências”, numa altura em que “o mundo está a ficar mais surdo aos apelos das vozes da razão, da tolerância, da paz e do amor”.

“Há uma fobia para com os pobres considerados como indigentes,  como pessoas portadoras de insegurança, de instabilidades, pessoas com desorientação dos hábitos quotidianos, que devem ser repelidas e mantidas longe” destaca o pe. Júlio Rocha citando a Mensagem do Papa.

“Isto é uma mensagem clara para as grandes questões da pobreza do nosso tempo, dos migrantes, dos refugiados, dos últimos dos últimos”, esclarece.

“A voz do Papa é única e, infelizmente, não vemos o discurso do Papa Francisco nos homens da frente, governantes e líderes mundiais”. Por isso, a primeira função deste dia, adianta, “é alertar para o mundo em que vivemos”.

“Fome”, “medo”, “políticas erradas” ou “corrupção endémica” são alguns dos aspetos mencionados na mensagem e que o sacerdote considera que caracterizam o mundo atual.

“O mundo rico vê uma ameaça nos pobres, e olha com desconfiança para os países pobres” acrescenta ainda referindo-se aos problemas nos países latino-americanos ou no Médio Oriente.

Na entrevista ao programa Igreja Açores, o sacerdote afirma que a “igreja deve ser sinal de contradição neste mundo” pois “a opção preferencial pelos pobres está no cerne da praxis da igreja”.

“Olhar o pobre não como inimigo, ameaça ou como o resto da humanidade descartável, mas como o outro que faz nascer em mim o dom da misericórdia, que não me provoca diretamente mas cujo atropelo à dignidade me deve apelar à consciência para me inclinar sobre ele protegendo-o” afirma acompanhando o Papa na Mensagem para este II Dia Mundial do Pobre.

“A nossa atitude cristã para com os pobres não deve ser a atitude da esmola, dar qualquer coisa, dar a sobra… e a nossa consciência ficar tranquila porque todos os meses damos 10 euros a uma família pobre. Não é assim!”, enfatiza e deixa um desafio: “Nós enclausuramos os pobres em bairros sociais onde ninguém entra, criamos uma espécie de um muro invisível” porque “temos medo daquilo que nos incomoda”.

“Enquanto não tivermos a capacidade de nos incomodarmos, que é o principio do amor, não seremos bons cristãos. Temos de nos desinstalar do conforto das nossas vidas”, frisa denunciando uma certa “surdez à voz dos pobres” de quem os cristãos “se devem fazer companheiros de estrada”.

O sacerdote, que é um admirador confesso do Papa Francisco, elogia a prioridade deste pontificado para as questões sociais.

“A Igreja, no século XIX, falou tarde demais sobre as questões sociais” adianta e , por isso, “vai durar muito tempo até que o mundo perceba que a igreja é a grande mensageira” porque “anuncia a verdade de Jesus” que é a “de um mundo mais irmão”.

A entrevista pode ser ouvida na íntegra programa de Rádio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo, depois do meio dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores. Também pode ser ouvida depois aqui.

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