Na próxima semana vários diplomas conhecerão a luz do dia. A sua discussão pública é o passo seguinte. Direção Regional da cultura quer que todos falem “a mesma linguagem”.
A Direção Regional da Cultura está disponível para apoiar técnica e financeiramente as autarquias dos Açores na elaboração dos seus planos de salvaguarda, disse esta sexta-feira o Diretor Regional no seminário sobre a Cantaria na Arquitetura Açoriana, promovido em parceria, pela Comissão Diocesana dos Bens Culturais da Igreja, o Museu Carlos Machado e o LabGeo, que teve lugar na Igreja de Santa Bárbara, em Ponta Delgada.
Nuno Ribeiro Lopes reafirmou a importância deste documento como “uma orientação estratégica” onde se definirá a capacidade de edificabilidade mas também as funcionalidades que se pretendem para as zonas históricas.
O responsável pela cultura nos Açores disse, ainda, que durante a próxima semana o Governo irá colocar à discussão pública uma série de diplomas que abrangem todas as áreas da cultura, cujo principal objetivo é esclarecer conceitos por forma a que se estabeleça “uma mesma gramática” ao nível da conservação, da reabilitação ou da valorização urbana bem como o regulamento jurídico que estabelece as regras de urbanização e edificação.
De acordo com Nuno Ribeiro Lopes é necessário que os instrumentos legislativos e regulamentares sejam “coerentes” e “estejam todos sintonizados na mesma linguagem”.
Uma ideia defendida igualmente pelo Diretor do Museu Carlos Machado e responsável diocesano pela Comissão dos Bens culturais da Igreja.
Duarte Melo lembrou que é preciso o “empenho de todos” para que a intervenção pública que se faz ao nível do património seja “consistente” e tenha sempre uma marca de contemporaneidade porque “é pelo património que lemos a história de cada tempo”.
O seminário contou com as intervenções de Isabel Soares Albergaria, Igor França e Diogo Caetano.
No essencial, a discussão prendeu-se com o uso de materiais líticos locais, a sua originalidade, os problemas de manutenção e conservação de alguns desses materiais mais vulneráveis e a qualidade integradora que a pedra vulcânica confere à arquitetura regional.
Para Isabel Albergaria “o uso de recursos naturais é sempre um aspeto fundamental nas construções” e, no caso açoriano, essa utilização revestiu-se de alguma originalidade, nomeadamente no que respeita à substituição de alguns materiais – alvenaria de tijolo pela bagacina- , o fraco uso de colunas nos edifícios e a sua substituição por pilares, etc.
Para a historiadora não há grande dúvida: os materiais podendo ser os mesmos, ficam sujeitos a técnicas de manipulação diferentes, daí resultando os tais traços originais.
Já Igor França dissertou sobre a qualidade integradora que a pedra vulcânica confere à arquitetura regional, nas várias ilhas, e que se traduz, por exemplo, nos desenhos, na estética que acaba por refletir a identidade e o estatuto social do proprietário de cada edifício seja ele religioso ou civil.
Diogo Caetano, representante da empresa Labgeo, debruçou-se sobre os perigos que se colocam à conservação das cantarias feitas de traquitos, ignimbritos, pedras mais moles que foram muito utilizadas nos primeiros anos do povoamento e que estão muito degradadas por terem estado sujeitas à ação do tempo e serem menos resistentes que o basalto, por exemplo.
O seminário que se insere no âmbito dos trabalhos desenvolvidos também pela comissão diocesana para os bens culturais da igreja, no sentido de inventariar, acautelar e contribuir para a preservação do património religioso na Diocese de Angra termina no sábado com uma visita a alguns edifícios do centro histórico como a Câmara Municipal de Ponta Delgada, Igreja do Colégio, Igreja Matriz e Convento de Santo André.