Última entrevista do 39º bispo de Angra ao Igreja Açores, antes da partida para Viana do Castelo, para ouvir este domingo na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra
D.João Lavrador foi nomeado bispo de Viana do Castelo pelo papa Francisco. Ainda sem data marcada, parte de Angra ao fim de seis anos de serviço na diocese insular e , embora tenha confessado “surpresa” na nomeação, reconhece que “há muito que existiam rumores” sobre a saída, aos quais garante não deu “grande crédito”.
“Estava a inculturar-me e agora tenho esta surpresa do Santo Padre me nomear para outra igreja. Parto com confiança, deixando muitos laços. O tempo alimentou afectos, construíram-se laços que agora não se perdem mas ficam feridos” refere numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo, depois da Missa dominical, na Sé, ao meio dia, na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.
Ao longo de meia hora, o bispo, que foi o 39º sucessor dos Apóstolos a governar a diocese de Angra não perde o interesse pelo Seminário na hora da despedida.
“O que eu agradeço a resistência e a coragem dos padres e professores; o orgulho que tenho em que esta diocese tenha um Seminário, que é tão elogiado por outros seminários e por outras dioceses; seria bom que também nós sentíssemos este orgulho”, começa por referir.
“ Estive e estou muito atento ao Seminário. Geralmente, o que está perto do coração merece maior atenção” afirma o prelado que agora até à saída, assume funções de administrador diocesano.
“Gostava que fossemos mais leais com o Seminário. O esforço é grande. O Seminário valorizou-se: renasceram as Jornadas de Teologia, fez-se uma revista cientifica; ainda pode continuar abrindo-se a lecionação de outros professores de Teologia de outras escolas de referência que podem vir cá. Com o digital é tudo mais fácil” adianta.
“Espero podermos chegar ao tempo de uma filiação a uma universidade pontifícia sem por em causa a sua existência nos Açores”, diz D. João Lavrador que sai da diocese sem ser “cansado”- “podia estar mais tempo”-, mas de consciência “tranquila”.
“Não me pertence fazer avaliação; está tudo apontado sobre o que eu entendo ser uma igreja diocesana, mas falta concretizar e amadurecer”, refere.
Lembra a reorganização territorial diocesana, com a criação das vigararias, em nome da promoção “de uma pastoral de proximidade”; a “valorização do Clero a vários níveis”; a “formação de leigos” ; a “caminhada sinodal”, nomeia.
“Procurei valorizar o que era preciso ser valorizado, mas também tenho consciência de que a Igreja é um povo de Deus peregrino que nunca está completa até à pátria celeste…Estou de consciência tranquila”, garante.
Interpelado sobre as dificuldades de uma diocese insular, em território descontinuo, responde: “ A minha entrada teve esse contexto (familiar) difícil que se foi alterando por vontade divina(…) havia a questão da distância; a ausência junto de quem estava frágil, mas o facto de eu ter entrado com a Virgem Peregrina de Fátima (peregrinação diocesana de 7 de janeiro a 28 de fevereiro de 2016) foi bom porque contactei com todas as paróquias”.
“Agora tinha a consciência de que estava a conhecer a alma do povo açoriano, até dos próprios sacerdotes: conhecia as estruturas, conhecia as pessoas, até da sociedade civil, já conheço, sei como lidar, Nosso Senhor como que me desinstala”.
Nesta entrevista deixa também uma referência ao clero açoriano: “senti um clero muito rico- em variedade, em cultura e na forma de se exprimir. Até na abertura, chamando a atenção, na critica que fazem… há pequenas realidades que geram atritos, mas sempre me senti muito bem com o clero”, afirma.
“Fui-me habituando à critica; há pessoas que são diferentes, pensam e agem diferente. O que mais me magoa é isto, sempre o disse: eu queria servir Igreja de Angra e às vezes magoava-me que alguma pessoa, guiada pelos seus próprios interesses, que se colocava a si própria como autorreferencial e não estava a colocar a Igreja em primeiro lugar. Isso magoava-me e magoou. A Igreja de Angra está sempre em primeiro lugar, a Igreja em todas as ilhas. Todas as paróquias e todos serviços são iguais”, esclarece.
“Sirvo-as com o mesmo empenho, entusiasmo e força porque são comunidades a onde Jesus nos envia como apóstolos”, conclui lembrando que neste espírito de missão procurou que a Igreja iniciasse uma caminhada sinodal, talvez a decisão que mais criticas levantou.
“Esta intuição da caminhada sinodal na diocese surge num contexto muito próprio: surge na homilia de uma missa durante um Conselho Presbiteral”, recorda.
“Houve resistências como continuará a haver, a nível diocesano e a nível da Igreja em geral. A comunhão, participação e missão não deixará de ter resistências”, reconhece.
“Estava muito consciente de que esta caminhada exige uma conversão. Se queremos um rosto novo, desde o pensar ao agir, valorizando os órgãos da Igreja, garantir níveis de corresponsabilidade, não podemos desistir. Nunca desisti; este é o caminho”, porque isto significa também “outra maneira de viver em Igreja”.
A entrevista fala ainda do sucessor, do caderno de encargos que deixa a leigos e sacerdotes e da urgência de uma Igreja “pobre e desprendida”.
A entrevista vai para o ar na íntegra este domingo, depois do meio dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.