Vitor Melo, fotógrafo da Presidência do Governo Regional, fez a reportagem fotográfica da visita do Papa na Terceira e em São Miguel. Lamenta não ter tido outro privilégio no acesso ao Santo Padre e diz que lhe ficou a faltar uma foto.
Idealizou o momento e até tinha o enquadramento, mas a distância que o separava do Papa não permitiu a Vitor Melo, fotógrafo da Presidência do Governo Regional dos Açores, fazer um dos retratos da sua vida: João Paulo II e o Senhor Santo Cristo a olharem-se mutuamente.
“Gostava de ter feito o retrato dos dois a olharem um para o outro. Um papa a olhar para uma imagem não acontece todos os dias. Sobretudo, ver a expressão facial do Bispo de Roma a olhar para esta imagem, que não é uma qualquer. O Senhor Santo Cristo está sempre a olhar para nós, com misericórdia. Tal como o Senhor também o Papa tinha um rosto fabuloso, caridoso, afável, simpático, piedoso, que mexia com as pessoas”, diz Vitor Melo.
“Teria sido uma combinação absolutamente fantástica… “ sublinha o fotógrafo que durante a visita esteve presente em todos os momentos em que esteve o papa João Paulo II na sua visita aos Açores, a 11 de maio de 1991.
Recorda-a, num misto de insatisfação e entusiasmo. Insatisfação por não ter tido os privilégios que teve o fotógrafo do Vaticano, o que acabou por inviabilizar grande parte do trabalho. Um constrangimento só ultrapassado pelo entusiasmo de quem teve a oportunidade de fotografar um chefe de estado que mobilizava multidões.
“Quando o Dr. Mota Amaral anunciou que o Papa vinha aos Açores perguntei a mim próprio porque carga de água, um homem habituado a multidões, haveria de vir a estes pedacinhos de terra… e mal sabia que era eu que o iria fotografar”, desabafa Vitor Melo.
E, a verdade é que nem teve grande tempo para se preparar. A viagem para a Terceira foi conhecida na véspera- “até tive de partilhar o quarto com um assessor da presidência porque já não havia hotéis”- e as dificuldades foram muitas, sobretudo ao nível da segurança.
“É sempre assim, mas neste caso ainda mais porque afinal era o Papa”, diz o fotógrafo que tem mais de 40 rolos de fotografias só com chefes de estado, nomeadamente Ramalho Eanes e Mário Soares.
Desta visita papal, marcada pela correria, retém o momento em que esteve mais próximo do Bispo de Roma.
“Na Terceira criaram uma posição a cerca de 10 metros do Santo Padre onde os fotógrafos podiam estar à vez uns segundos para tirarem uma fotografia. Fiquei mais tempo do que o que estava previsto porque toda a gente me fazia sinais para sair dali, não consigo explicar” confessa Vitor Melo.
“O Papa tinha esse fascínio. O sorriso, o seu ar piedoso e complacente dominavam-nos por completo”.
Cobriu a visita com “três máquinas ao ombro” permanentemente.
Era tudo analógico. “Não podíamos falhar” admite embora não consiga disfarçar a sua frustração pelas “condições de trabalho que impediram outra reportagem fotográfica”.
“Quem sabe se um dia voltarei a ter essa sorte, com o Papa Francisco” diz entre sorrisos.
“Apesar dos tempos serem mais exigentes e da segurança ainda poder ser mais apertada julgo que hoje teríamos mais condições de trabalho e o Papa Francisco é menos protocolar… seria muito interessante fotografá-lo”.