A festa açoriana em honra de São Francisco de Assis tem o seu ponto alto no domingo e será presidida pelo Bispo de Angra numa altura em que o Papa convida a Igreja a “despojar-se” e a combater a “idolatria da mundanidade”.
A festa litúrgica de São Francisco de Assis, nos Açores, tem lugar este ano na Freguesia da Feteira onde a Fraternidade local assinala 100 anos de autonomia.
“Habitualmente celebramos esta data em Angra mas este ano decidimos juntar-nos na Feteira celebrando a nossa festa juntamente com os irmãos desta Fraternidade” disse ao Portal da Diocese o Ministro Regional da Ordem Franciscana Secular, Mário Cabral.
Depois do tríodo que decorreu esta semana, as celebrações mais importantes estão concentradas no domingo, com uma missa e uma procissão solene, presididas pelo Bispo de Angra.
Ao todo, nas ilhas, os Franciscanos são cerca de mil, distribuídos por 17 fraternidades espalhadas por São Miguel e pelo Faial mas é na ilha Terceira que a comunidade é mais forte e mais numerosa.
Tal deve-se, segundo algumas opiniões, ao modelo como as fraternidades se foram instalando nas ilhas, nomeadamente à proliferação de fraternidades em espaço paroquial na ilha Terceira, como reconhece Duarte Chaves no artigo “A Venerável Ordem Terceira da Penitência, uma vivência na identidade franciscana no arquipélago dos Açores”, publicado no Boletim do Núcleo Cultural da Horta. O Corvo é a única exceção de uma presença mais vincada das três ordens desta enorme família religiosa.
“Também já fomos mais mas isso não é importante” reconhece Mário Cabral ciente do rigor e da exigência para pertencer a uma ordem religiosa “porque isso implica uma mudança radical de vida que requere maturidade” e, neste caso, entrar na Ordem é “viver o evangelho na sua radicalidade”, conclui.
Além da contemplação, da oração e do estudo subjacentes às ordens monásticas, a esta acresceu sempre, desde o início, uma componente de evangelização socialmente mais interventiva em que a pobreza é tida como um modelo de virtude e a pregação um veículo para a difusão da sua mensagem, destacando-se, ainda a componente laical e de fraternidade entre eclesiásticos e leigos no interior da família franciscana.
Em termos nacionais os Franciscanos dos Açores representam um terço dos Franciscanos portugueses e a sua história está muito relacionada com a história do arquipélago e com os cultos penitenciais da quaresma, o Espirito Santo e o Senhor Santo Cristo dos Milgares.
“Não consigo encontrar uma só causa para justificar esta importância mas o isolamento e estes cultos penitenciais são muito nossos” reconhece Mário Cabral que encontra nos romeiros da quaresma grandes semelhanças aos Terceiros Seculares.
Ainda hoje, os Terceiros ocupam um lugar cimeiro na organização das procissões quaresmais, de entre as quais se destacam as procissões dos Passos e da Penitência, sendo esta última na ilha de São Miguel, conhecida como a “procissão dos terceiros”.
De resto, esta é uma das principais atividades dos Terceiros que, nos Açores perderam protagonismo nas ações de cariz social com o surgimento de outros grupos dentro da Igreja.
“Continuamos sempre a ajuda aos pobres mas hoje estamos mais voltados para a oração até porque não temos bens próprios” reconhece o responsável regional da Ordem Franciscana Secular.
Desde 2004 que os Terceiros Seculares dispõem no arquipélago do apoio espiritual da Ordem dos Frades Menores, com quem os seculares mantém um vínculo forte, nomeadamente Frei Mário Jorge Barbosa que juntamente com os padres paroquiais dá assistência espiritual aos membros das Fraternidades.
Estas comemorações da Fraternidade da Feteira, em Angra, acontecem numa altura em que o Papa Francisco se encontra em Assis numa visita pastoral recheada de um profundo significado durante a qual o Santo Padre apelou à Igreja para que se “despoje” e combata a “idolatria” da mundanidade que a pode desfigurar.
No local em que o santo de Assis se despojou de todas as suas posses, há oito séculos, o Papa quis evocar as pessoas que foram “despojadas por este mundo selvagem que não dá trabalho, que não ajuda”.
O Papa deixou de lado o discurso que tinha preparado e comentou as notícias dos últimos dias que davam conta da sua intenção de “despojar a Igreja” em particular no que dizia respeito “às roupas dos bispos, dos cardeais” e de si próprio.
“Esta é uma boa ocasião para convidar a Igreja a despojar-se, mas a Igreja somos todos, todos: desde o primeiro batizado, todos somos Igreja”, declarou.
“Quando os meios de comunicação, os media, falam de Igreja, pensam que a Igreja são os padres, as irmãs, os bispos, os cardeais e o Papa, mas a Igreja somos todos nós”, prosseguiu.
Francisco apontou por diversas vezes a mundanidade como principal mal a combater no seio da Igreja, para evitar “a vaidade, o orgulho, que é a idolatria”.