O Papa disse hoje no Vaticano que o percurso sinodal lançado em 2021, na Igreja Católica, deve dar espaço às “vozes dos jovens, das mulheres, dos pobres” e a todos os que lutam para ver “reconhecida” a sua presença.
“Temos de interrogar-nos sobre quanto espaço abrimos e quanto realmente escutamos, nas nossas comunidades, as vozes dos jovens, das mulheres, dos pobres, daqueles que estão dececionados, daqueles que foram feridos nas suas vidas e que estão zangados com a Igreja”, referiu, falando aos participantes no encontro nacional dos representantes diocesanos do Caminho Sinodal Italiano.
“Enquanto a sua presença for uma nota esporádica, em toda a vida eclesial, a Igreja não será sinodal, será uma Igreja de poucos”, acrescentou Francisco, falando no auditório Paulo VI.
Perante os membros da Conferência Episcopal Italiana e outros responsáveis católicos, o Papa mostrou-se crítico de uma “Igreja sobrecarregada de estruturas, de burocracia, de formalismo”, pedindo que as comunidades católicas se abram “àqueles que ainda lutam para ver reconhecida a sua presença na Igreja, aos que não têm voz, àqueles cujas vozes são abafadas, senão mesmo silenciadas ou ignoradas”.
A intervenção deixou uma palavra de solidariedade aos que se “sentem desadequados, talvez por terem percursos de vida difíceis ou complexos”, considerando que “muitas vezes são excomungados a priori”.
Francisco defendeu a inclusão de “todos”, na Igreja, “doentes, justos, pecadores, todos”.
O Papa deixou um apelo a aumentar a “corresponsabilidade eclesial”, para que todos participem “ativamente na vida e na missão da Igreja”.
“Precisamos de comunidades cristãs nas quais o espaço se alargue, onde todos possam se sentir em casa, onde as estruturas e os meios pastorais favoreçam, não a criação de pequenos grupos, mas a alegria de sentir-se corresponsáveis”.
O discurso, transmitido em direto pelos canais do Vaticano, aludiu à “doença” da autorreferencialidade e ao que Francisco designou como “neoclericalismo de defesa”.
“O Sínodo chama-nos a ser uma Igreja que caminha com alegria, humildade e criatividade no nosso tempo, conscientes de que todos somos vulneráveis e que precisamos uns dos outros”, indicou o Papa, pedindo que o tema da “vulnerabilidade” seja levado a sério no Caminho Sinodal.
Francisco dedicou uma reflexão ao trabalho da Igreja no mundo das prisões, que considerou essencial para a “escuta de uma humanidade ferida”, superando os “preconceitos” e o “medo”.
No final do seu discurso, o Papa gracejou com uma expressão que lhe foi dirigida, ao entrar para o encontro, sobre a “desordem” criada por este caminho do Sínodo 2021-2024, sustentando que o Espírito Santo “é o protagonista”.
“Ele é o protagonista do processo sinodal: é Ele quem abre à escuta as pessoas e as comunidades; é Ele quem torna o diálogo autêntico e fecundo; é Ele quem ilumina o discernimento; é Ele quem dirige as escolhas e decisões. Acima de tudo, é Ele quem cria a harmonia”, declarou.
(Com Ecclesia)