O Papa disse hoje no Barém que as novas gerações devem “semear fraternidade” para acolher diferenças étnicas, culturais e religiosas, superando assim os “ventos de guerra” que atingem a humanidade.
“Sede campeões de fraternidade. Este é o desafio de hoje para vencer amanhã, o desafio das nossas sociedades cada vez mais globalizadas e multiculturais”, realçou, num encontro com jovens cristãos e muçulmanos na Escola do Coração de Jesus.
No terceiro dia da sua visita ao Barém, onde os cristãos têm liberdade de culto, Francisco falou da fraternidade como “a base duma sociedade amiga e solidária”.
“Os ventos de guerra não se aplacam com o progresso técnico. Com tristeza constatamos que, em muitas regiões, as tensões e as ameaças aumentam e, por vezes, deflagram nos conflitos”, lamentou.
O primeiro Papa a visitar o Reino do Barém disse ter encontrado “um país de encontro e diálogo entre diferentes culturas e credos”.
“Agora tendo-vos diante dos olhos – vós, que não sois da mesma religião e não tendes medo de estar juntos –, penso que uma tal convivência das diferenças não seria possível sem vós; nem teria futuro”, acrescentou, numa mensagem aos jovens.
Francisco, que chegou numa cadeira de rodas, aconselhou os jovens a encontrar momentos de silêncio e a “alargar as fronteiras interiores”.
A intervenção – proferida em italiano e traduzida para inglês – desafiou os participantes a abraçar a “cultura do cuidado”, sustentando que “estar da parte de Deus, significa cuidar de alguém e dalguma coisa, especialmente dos mais necessitados”.
“Este é o ponto de viragem, o início da novidade, o antídoto contra um mundo fechado que, impregnado de individualismo, devora os seus filhos; contra um mundo enclausurado pela tristeza, que gera indiferença e solidão”.
O Papa foi recebido na entrada da escola pela diretora da instituição, dois professores e alguns alunos que lhe oferecem flores, antes de entrar no ginásio, onde se encontrou com cerca de 800 jovens.
Francisco foi saudado pelo tenente Abdulla Atiya, que entrou no livro do recorde do Guiness correndo uma maratona em uniforme militar e atualmente serve como membro da Guarda Real do Barém.
“Cresci numa família muçulmana e estudei nesta escola, um instituto católico”, explicou, elogiando o clima de diálogo entre diferentes religiões e nacionalidades no Barém.
A mesma ideia foi apresentada por Nevin Varghese Fernandez, jovem católico, o qual relatou que vive a sua fé de forma “segura e sem riscos”.
“Somos abençoados por viver num país que promove e apoia as várias religiões”, apontou.
Uma jovem da paróquia local, Merina Motha, pediu ao Papa que oferecesse aos jovens alguns conselhos, a partir da sua própria experiência pessoal.
“O meu conselho é este: avançar sem medo, e nunca sozinhos! Deus não vos deixa sozinhos, mas, para vos dar uma mão, espera que lha peçais”, respondeu Francisco.
“A Igreja está convosco e tem tanta necessidade de vós, de cada um de vós, para rejuvenescer, explorar novas sendas, experimentar novas linguagens, tornar-se mais jubilosa e hospitaleira. Nunca percais a coragem de sonhar e viver em medida grande! Fazei vossa a cultura do cuidado e espalhai-a; tornai-vos campeões de fraternidade; enfrentai os desafios da vida, deixando-vos orientar pela criatividade fiel de Deus e por bons conselheiros”.
O encontro encerrou-se com orações pela paz, a recitação do Pai Nosso, a bênção e o hino final.
A primeira viagem de um Papa ao Barém iniciou-se na última quinta-feira e prossegue até este domingo, quando Francisco preside a um encontro de oração com bispos, membros do clero e institutos religiosos, seminaristas e agentes de pastoral, na primeira igreja católica da Península Arábica (1939), em Manama, capital do Barém.
A cerimónia de despedida vai decorrer pelas 12h30 (09h30 em Lisboa), na Base Aérea de Awali, estando o regresso a Roma previsto pelas 17h00 locais (menos uma em Lisboa).
Esta é a 39ª viagem internacional do atual pontificado, marcando o regresso de Francisco à Península Arábica, onde esteve em 2019, para uma visita a Abu Dhabi.
(Com Ecclesia)