O Papa Francisco associou-se à celebração do Dia Mundial da Água (22 de março), afirmando que esta é um bem universal e não uma “mercadoria”.
“Para nós, crentes, a irmã água não é uma mercadoria, é um símbolo universal e é fonte de vida e saúde”, referiu, este domingo, no final da recitação da oração do ângelus, transmitida desde a biblioteca do Palácio Apostólico do Vaticano.
Francisco convidou os crentes a refletir sobre o valor de um “maravilhoso e insubstituível dom de Deus”, assumido a responsabilidade de o levar a todos.
“Demasiados irmãos, tantos, tantos irmãos e irmãs, têm acesso a pouca água e muitas vezes contaminada. É necessário assegurar a todos agua potável e serviços de higiene”, indicou.
O Papa deixou o seu encorajamento aos profissionais e responsáveis que trabalham para este objetivo “tão importante”.
“Penso, por exemplo, na Universidade de Água, na minha pátria, nos que trabalham para levá-la em frente, fazer compreender a importância da água. Muito obrigado”, acrescentou.
O Dia Mundial da Água, promovido pela ONU, lembra em 2021 a importância de “não deixar ninguém para trás”, sublinhando que o acesso à água e ao saneamento foi reconhecido internacionalmente como um direito humano, em resolução aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2010.
“Mesmo assim, mais de 2 mil milhões de pessoas continuam a viver sem água potável”, alerta a ONU.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, assinala na sua mensagem para este 22 de março que “a água é vital para a sobrevivência e, juntamente com o saneamento, ajuda a proteger a saúde pública e ambiental”.
O responsável português destaca que o acesso à água “não deveria ser negado a ninguém”.
Em junho de 2020, o Vaticano apresentou um documento sobre a aplicação da encíclica ecológica e social ‘Laudato Si’ (2015), que incluiu entre as suas principais preocupações o acesso à água potável como “um direito humano fundamental e universal”.
‘A caminho para o cuidado da casa comum – Cinco anos depois da Laudato Si’ é o nome do documento, elaborado pela mesa interdicasterial da Santa Sé sobre a ecologia integral, que apela à “sobriedade” no consumo da água e à sua reutilização na higiene, usos domésticos e agricultura.
O texto defende a capacitação das comunidades locais, para promover a sua “autossuficiência hídrica”, e políticas que permitam um fornecimento de água potável “economicamente acessível”, chegando também a “quem não tem capacidade de pagar”.
O uso dos plásticos descartáveis aparece como um dos problemas identificados, sugerindo-se a utilização de “recipientes reutilizáveis e inócuos para a saúde humana”, em alternativa.
Em março de 2020, a Santa Sé tinha lançado o documento ‘Aqua fons vitae’ (Água, fonte de vida), no qual desafia as paróquias de todo o mundo a abandonar o uso de garrafas de plástico e a investir em sistemas amigos do ambiente.
“Em todas as paróquias, mosteiros, escolas, cantinas, oratórios e centros de saúde, a Igreja deve garantir o acesso à água potável e ao saneamento com sistemas que sejam amigos do ambiente, eficientes e compatíveis com as necessidades específicas dos utilizadores”, pode ler-se.
Francisco tem alertado para a possibilidade de uma “guerra mundial” por causa dos recursos hídricos, defendendo que a água é um direito “vital” de cada pessoa.
“Pergunto-me se nesta terceira guerra aos bocados estaremos a caminho da grande guerra mundial pela água”, assinalou em 2017, num encontro dedicado ao ‘direito humano à água’, na Academia Pontifícia das Ciências (Santa Sé).
A encíclica ecológica ‘Laudato Si’ dedica um ponto específico à “questão da água”, no qual o Papa recorda que “a pobreza da água pública” se verifica especialmente na África, onde “grandes sectores da população não têm acesso a água potável segura”.
“Um problema particularmente sério é o da qualidade da água disponível para os pobres, que diariamente ceifa muitas vidas”, alerta Francisco.
A encíclica manifestava a oposição da Igreja à “tendência para se privatizar” a gestão da água, como se esta fosse uma “mercadoria sujeita às leis do mercado”.
“Na realidade, o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos”, escreve o Papa.
(Com Ecclesia)